A arte de esculpir madeira de Ricardo Piedade, gravada na marca Blac Dwelle

Os desenhos do irmão mais velho coloriram, desde cedo, a criatividade de Ricardo Piedade, encaminhada para estudos em Design Gráfico e hoje expressa na marca Blac Dwelle, esculpida em madeira, com uma forte identidade africana. Podemos conhecê-la online em morada própria, mas também entre ligações à galeria Underdogs, num registo artístico alargado ainda ao renomado Festival Iminente, e aberto à colaboração com novos artistas africanos.

por Paula Cardoso

Nenhuma peça se repete no portfólio de Ricardo Piedade. A cada criação, personalizada de acordo com a inspiração, as cores, a madeira e as ferramentas do momento, o artista produz formas únicas.

“Às vezes as pessoas pedem-me para fazer como esta ou aquela peça que viram online. Então tenho de explicar que não consigo reproduzir. Posso ir pela tonalidade da madeira, pelo corte, mas surge sempre outra coisa”, introduz Ricardo, realçando a assinatura irrepetível do seu trabalho.

Formado em Design Gráfico, via inspirada no percurso do irmão – cujos desenhos cresceu a admirar –, Ricardo, de 28 anos, aprimora-se nas esculturas de madeira, que apresenta no Instagram e no site da marca que criou: a Blac Dwelle.

“Blac vem da homenagem aos meus pais, que são de Cabo Verde. Eu já nasci no Barreiro, mas sei que a minha identidade é africana e assumo isso a 100%”.

Além da africanidade, a marca artística desenvolvida pelo barreirense reflecte a apresentação documental.

“O meu nome é Ricardo Danilo, peguei pelo D e deixei fluir até chegar ao Dwelle”.

Montra online

A combinação recebe-nos na morada online, à qual somos conduzidos também pelo Instagram, ao encontro de uma montra criativa onde além das esculturas de madeira temos pinturas e desenhos.

O portfólio artístico já passou, em 2014, pela Mella Lisboa, Mostra de Arte Africana, e, mais recentemente, pelo Festival Iminente (2019).

No currículo de Ricardo destaca-se também a ligação a Alexandre Farto Aka Vhils e à galeria de arte Undergrounds. 

“Desde o ensino básico que sabia que era isto que queria. Comecei no grafiti, também fazia umas ilustrações, depois variava para pintura em suporte de madeira, cheguei a fazer logotipos e capas para CDS de música, de artistas de rap e reggae”, reconstitui, enquanto se prepara para verter toda a experiência adquirida num novo projecto.

A novidade está a ser desenvolvida em trio: com o irmão, Paulo, e o amigo Fidel, já parceiros na oficina onde as criações da Black Dwelle ganham vida.

“Queremos abrir uma empresa que nos permita continuar a desenvolver o nosso trabalho individual, mas também a ter um espaço para exposições e workshops, que sirvam de apoio ao trabalho de outros artistas”, antecipa Ricardo, com o foco da intervenção bem definido. “Estamos a querer concentrar-nos nos artistas africanos, porque sabemos que têm muito talento, mas não têm a ajuda necessária que nós, com a experiência que temos, e tendo em conta as situações pelas quais já passamos, conseguimos passar”.

 

Agitar as artes

O impulso de capacitação, inicialmente planeado para 2020, amadurece agora entre confinamentos, antecipando também a criação de um site para venda de peças e apoio aos novos artistas.

“Tenho o objectivo de me tornar independente, mas também quero ter força para ajudar outros artistas. Quero poder estar bem para formar e fazer novas colaborações, porque acredito que no meio das artes, temos de agitar um pouco”.

Confiante na capacidade de acolhimento do mercado – “acredito que há lugar para todos, e que não têm de ser sempre os mesmos a aparecer” –, Ricardo sabe que o caminho é longo, e por isso insiste na força da união.

Além da ruptura com os “lugares marcados”, e de assumir o compromisso de ‘furar’ novos espaços, o escultor procura quebrar fronteiras sobre a africanidade.

“O lado africano está sempre presente no meu trabalho, mas trago também um bocadinho de cada civilização, mostrando que é bom termos várias culturas e interagirmos uns com os outros. Nós somos isso tudo e não uma coisa apenas. Por isso, naquilo que faço, há um pouco de tudo aquilo que somos”.

Humanos!

 

Acompanhe o trabalho de Ricardo Piedade no site da

Blac Dwelle

E no Instagram