A dúzia racista que torna ainda mais cara a defesa da nossa Democracia

A proliferação da extrema-direita na Assembleia da República, decorrente dos resultados eleitorais do passado domingo, expõe, de forma inequívoca, o avanço e normalização da ideologia do ódio em Portugal. Esta é a realidade que colectivamente deveríamos estar preocupados em debater e combater: a ascensão de programas políticos anti-democráticos e anti-Direitos Humanos. Em vez disso, desde a confirmação da maioria absoluta do PS, têm-se multiplicado, nas redes sociais, posts e memes de indignação contra a “carneirada” que optou pelo voto útil, em vez de “correr com o Governo do Costa”. Por acaso perceberam que se o PSD fosse o partido mais votado, teríamos um partido racista, xenófobo, misógino, e homofóbico no Executivo? Os questionamentos prosseguem na segunda parte do nosso Lado Negro da Força, dedicada ao rescaldo nas Legislativas.

por Paula Cardoso

Uma dúzia de deputados racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos na Assembleia da República é suficiente para levar a ameaça da extrema-direita a sério em Portugal? Uma dúzia de deputados racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos na Assembleia da República é suficiente para os “moderados” se convencerem de que o país não goza de nenhuma excepcionalidade que o protege de uma deriva anti-democrática?

Inquieto-me com as primeiras respostas que me vão chegando, sob a forma de posts e memes nas redes sociais.

Em vez de notar uma preocupação colectiva em debater e combater a ascensão de programas políticos anti-democráticos e anti-Direitos Humanos, encontro, à minha volta, demasiadas reacções de indignação contra a “carneirada” que optou pelo voto útil, em vez de “correr com o Governo do Costa”.

Como se os boletins de voto trouxessem um quadrado adicional “maioria absoluta”.

Por acaso perceberam que se o PSD fosse o partido mais votado, teríamos um partido racista, xenófobo, misógino, e homofóbico no Executivo?

Ou perceberam, mas como isso não vos afecta directamente seguem na vossa vida de “moderação”?

Os questionamentos prosseguem mais logo, na segunda parte do nosso Lado Negro da Força, dedicada ao rescaldo nas Legislativas.

Para ver em directo no Facebook e no YouTube.

Até lá, deixo-vos com o pensamento de Martin Luther King, expresso em “Letter from Birmingham Jail” (Carta da prisão de Birmingham), de 1963:

“Devo confessar que ao longo dos últimos anos desiludi-me seriamente com os brancos moderados. Quase cheguei à lamentável conclusão de que a maior pedra no caminho dos negros, no seu avanço rumo à liberdade, não é o White Citizen’s Council ou o membro da Ku Klux Klan, mas os brancos moderados, que são mais zelosos da “ordem” do que da justiça; que preferem uma paz negativa que é a ausência de tensão a uma paz positiva que é a presença da justiça; que dizem constantemente: “concordo convosco quanto ao objectivo que procuram, mas não posso concordar com os vossos métodos de acção direta”; que acreditam paternalisticamente que podem fixar o cronograma para a liberdade de outro homem; que vivem sob um conceito mítico do tempo e que constantemente aconselham o negro à espera por uma “época mais apropriada”. A compreensão superficial de pessoas de boa vontade é mais frustrante do que a incompreensão completa de pessoas de má vontade. A aceitação morna é muito mais atordoante do que a rejeição total”.