A melhor equipa é aquela que se mexe para vencer o racismo

Na última terça-feira, 8, a partida PSG-Basaksehir, a contar para a Liga dos Campões, foi interrompida na sequência dos protestos do jogador Demba Ba, contra insultos racistas dirigidos pelo quarto árbitro ao treinador Pierre Webo. “Quando mencionas um jogador branco, nunca dizes ‘este jogador branco’. Então, porque é que quando mencionas um jogador preto, tens de dizer ‘este jogador preto”, questionou Demba. A contestação teve um desfecho histórico, com as duas equipas a abandonarem o relvado, alinhadas contra o racismo. O caso vai estar em análise esta noite, em mais uma emissão d’ O Lado Negro da Força, hoje com Magda Burity da Silva como convidada. Antecipamos o debate com um testemunho único de Pedro Filipe, um dos painelistas desse lugar de fala de todas as quintas-feiras.

por Pedro Filipe

Estava no 12.º ano numa aula de inglês. Ao meu lado o Ricardo Rodrigues fazia um som irritante para brincar com os nervos de toda a gente. Do outro lado da sala a Ana Louro começa a mandá-lo parar. Ele não pára. 

Aos poucos e poucos toda a gente o manda calar. Ele não pára. 

A aula prossegue. Gritos de “Pára Canito” já se sobrepõem ao que a professora diz. 

A aula prossegue. Eu, sentado ao lado dele viro-me para o Ricardo e digo em tom baixo “pára lá com isso”. A professora pára a aula. 

“Pedro você é sempre a mesma coisa, que falta de respeito!!!” 

Eu não digo nada. O Ricardo diz à professora que é ele quem estava a fazer barulho. Ela nega, diz que era eu. A Ana diz à professora que ela estava a gritar, e pergunta como é possível mandar-me calar a mim? Ela nega. Era eu. Instala-se a confusão. Eu sempre calado. No meio da discussão, a Ana diz que não entende porquê que aconteça o que aconteça a professora só me repreende sempre a mim. Ela responde: 

– Olhe, é por ele ser mais VISÍVEL! 

Sim, eu era o único negro da turma. Finalmente expludo. e avanço na direcção dela. O Ricardo e o Bruno Silva tiram-me da sala. 

Na aula seguinte, à hora do toque de entrada estávamos todos em frente à sala, algo muito raro. A Professora entra. Ninguém a acompanha. Dá o segundo toque e nós ainda em frente à sala a falar como se nada fosse. 

– Então meninos não vão entrar? … meninos? 

Esteve lá dentro 15 minutos sozinha até perceber que ninguém ia entrar. Ninguém entrou, ela saiu. Perdeu uma turma que a hostilizou para a vida. Eu ganhei amigos para a vida. É nestes momentos que vemos quem são os nossos. 

O Demba Ba deve estar orgulhoso da reacção dos seus colegas, algo que nunca tinha visto acontecer no futebol. Quer os da sua equipa, quer os do PSG! Todos unidos por um bem maior. Isto deu-me alguma esperança.

O espírito do 12.º da Cargaleiro ainda habita por aí. Obrigado meus putos.

 

Acompanhe, a partir das 21h30, no Facebook e no YouTube, o Lado Negro da Força, o talk-show online das noites de quintas-feiras. Com José Rui Rosário, Pedro Filipe, Paula Cardoso, Mariama Injai e Danilo Moreira.