A negação do racismo em Portugal, que ecoa de um podcast britânico

Que referências nos acompanham na nossa construção de negritude e africanidade? Quais os livros, filmes, séries, discografia ou palestras que nos ajudaram a desmontar a armadilha da história única? Publicamos, neste espaço, sugestões que espelham esse despertar identitário. O podcast da jornalista britânica Afua Hirsch, intitulado “We Need to Talk About the British Empire” (“Temos de Falar sobre o Império Britânico”), trouxe à luso-angolana Alice Marcelino ecos da problemática racial em Portugal.

por Afrolink

“Parem de falar do passado!”; “Ultrapassem e sigam em frente!”; “Essa mania de invocarem a escravatura e a colonização é apenas para se fazerem de vítimas!”; “Não se pode ler a História com as lentes da actualidade!”.

Os argumentos sucedem-se e repetem-se até à exaustão com o mesmo objectivo: desconversar.

Na esmagadora maioria das situações em que se propõe a pessoas brancas uma discussão séria sobre racismo, o que implica recuar à génese da coisificação dos negros estabelecida pela escravatura e fortalecida pelo colonialismo – com a bênção da igreja católica e a cumplicidade de pseudo-cientistas –, esbarra-se num cordão de resistências.

Familiarizada com as forças de bloqueio que se erguem para travar todo e qualquer debate racial – e que a socióloga Robin Diangelo tão bem explica na obra “White Fragility” (“Fragilidade branca”) –, a jornalista e escritora Afua Hirsch encontrou a sua forma de as quebrar.

Através do podcast “We Need to Talk About the British Empire” (“Temos de Falar sobre o Império Britânico”), que podemos ouvir em audiobook, a autora escancara, a partir do testemunho de seis figuras proeminentes da sociedade britânica, como o passado imperialista continua a marcar o presente, e o imaginário colectivo.

Quaisquer semelhanças desses relatos com a realidade portuguesa não são pura coincidência, nota a fotógrafa Alice Marcelino que, a partir de Londres, sugere que activemos a nossa escuta para as distorções sobre identidade nacional, construídas a partir do ensino.

“O sistema educativo perpetua ideias estereotipadas sobre os britânicos enquanto ‘descobridores’ e ‘salvadores’ do mundo incivilizado”, assinala Alice, lembrando as similitudes com o romantismo histórico português.

“É essa estrutura que sistematicamente nega a existência de racismo”, acrescenta a luso-angolana.  Nós escutamos! 

O podcast “We Need to Talk About the British Empire” ouve-se neste audiobook.