Afric-Us: A loja online que converte vendas em valor social

Lançada em 2019 por Filipe Anjos, a loja online Afric-Us nasceu para transformar vendas em acções de capacitação da população africana. Uma missão que já seguiu viagem, de Inglaterra até São Tomé e Príncipe.
por Paula Cardoso

Branca, unissexo, 100% algodão, lavável à máquina, com tamanhos que vão do S ao XXL, e preço de venda fixado em 15 libras, a t-shirt African, disponível na loja online Afric-Us, acrescenta à etiqueta de atributos convencionais um selo único de longevidade: foi desenvolvida à medida do progresso das próximas gerações.

Como ela, todos os artigos à venda na Afric-Us valem um futuro melhor, explica Filipe Anjos, o empreendedor responsável por este projecto.

“O facto de viver em Londres, e estar exposto a diferentes perspectivas, abriu o meu campo de visão no que toca ao valor de cada ‘bem’ –material ou não”, conta Filipe, focado em corrigir disparidades, sobretudo a desigualdade socioeconómica que afasta a sociedade britânica, onde vive, da realidade africana, ou, nas suas palavras, da “Terra Mãe”.

Essa intervenção passa pelas vendas geradas na Afric-Us, neste momento centradas em quatro tipos de produtos – t-shirts, livros, bonés e sweatshirts –, mas sempre abertas a novas entradas.

Não é caridade, é negócio social!

“O nosso objectivo, do ponto de vista da oferta, é trabalhar com diferentes criadores de origem africana em diferentes ‘artes’”, esclarece este português de ascendência são-tomense, reforçando que o modelo de negócio da Afric-Us está orientado para a geração de valor social, de forma sustentada.

“Somos o chamado ‘Negócio social’, ou ‘Social business’”, define Filipe, distanciando-se de lógicas assistencialistas: “Nós não fazemos solidariedade, não somos uma empresa de caridade ou ONG”.

A diferença explica-se pelo modelo de negócio. “Temos de garantir que os custos estão cobertos. A partir daí, vamos reinvestir na marca/loja/negócio, de modo a podermos continuar a desenvolver o projecto, ou seja, a fazer o trabalho no terreno”.

Esta acção passa, entre outras iniciativas, pela distribuição de livros e aparelhos tecnológicos, pela realização de formações e organização de eventos para difundir as oportunidades existentes no mundo das novas tecnologias.

 

A dinâmica de concretização parte da própria experiência de Filipe, que, depois de concluir o 12.º ano, desbravou um caminho profissional a partir do mundo digital.

Com várias formações online, incluindo cursos na área do Marketing, Gestão de Projectos, Programação e Desenvolvimento Web, o criador da Afric-Us frisa que este percurso foi trilhado com a finalidade de adquirir e complementar conhecimento, necessário para ocupar certas posições no mercado de trabalho.

O investimento tecnológico, iniciado desde a chegada a Londres, há mais de cinco anos, permite-lhe exercer funções como ‘implementation manager’ numa empresa de software, para além de ocasionalmente fazer consultoria para o sector da Hotelaria e proprietários de imóveis para arrendamento de curto prazo. Isto graças à sua experiência na indústria IT/Turism.

As múltiplas e variadas competências, acumuladas por Filipe em 27 anos de vida, acabaram por moldar a missão da Afric-Us, apostada em “dar ferramentas às pessoas para aprenderem novas técnicas em diferentes indústrias, de modo a que possam criar algo que lhes venha a dar lucro, ou que lhes permita trabalhar online como freelancers”.

Resumidamente, pretende-se “abrir certas portas, principalmente através de apoio ao desenvolvimento tecnológico”, acrescenta este fazedor, lembrando que “as possibilidades são imensas” para empreender.

De São Tomé para toda a África

Filipe adianta que essa intervenção já está a acontecer, embora ainda não nos moldes pretendidos, referindo-se à deslocação a São Tomé e Príncipe, em Setembro de 2019.

A experiência estendeu-se por duas semanas, ocupadas entre pesquisa e trabalho de campo, e, antes da Covid-19, preparava-se para voltar ao terreno em Setembro.

Para essa data, Filipe tinha em mente a organização de um evento e a entrega de aparelhos tecnológicos, bem como uma breve formação para utilização dos mesmos, actividades entretanto ‘congeladas’.

Os planos da Afric-Us, iniciados em território são-tomense, pretendem estender-se a outros países africanos, numa fase inicial os de Língua Portuguesa.

“Posteriormente, à medida que a equipa for crescendo e fizermos mais parcerias, iremos expandir para o máximo possível de países”, antevê Filipe, sublinhando que este é um “objectivo a longo prazo”, que deverá estar apoiado num crescimento orgânico e realista. Ao serviço do desenvolvimento africano.