Anabela Rodrigues está na luta, nas ruas e nas urnas – e nós com ela

Mediadora cultural e activista anti-racista, Anabela Rodrigues integra as listas do Bloco de Esquerda (BE) para as Legislativas do próximo dia 10 de Março. Quarta candidata pelo círculo de Lisboa, “Belinha” apresentou-se em comício, com um discurso em que assinala como após séculos de escravatura, décadas de colonialismo e 50 anos desde o 25 de Abril, é imperativo prosseguirmos na luta pela Vida Boa. O Afrolink junta-se ao repto: “Somos parte deste país. Queremos uma vida boa, e não queremos continuar oprimidos/as, não queremos continuar uma vida de miséria, de exploração laboral, de sofrimento constante para ter um tecto sobre a cabeça, um sistema de saúde”. Ao mesmo tempo, destacamos o essencial da mensagem, como a importância de garantir “unidade nas nossas diferenças, para lutar contra os racistas, ou xenófobos, os homofóbicos, os fascistas que continuam a manter um sistema capitalista, que nos segrega, que nos sufoca, que nos mata. Que insiste em nos colocar uns contra os outros procurando bodes expiatórios nos oprimidos/as”. E, para que não restem dúvidas, reafirmamos o que disse Anabela Rodrigues: “Sim queremos vida boa, os imigrantes e as imigrantes, os negros e negros, a comunidade cigana”. Por isso, a luta continua. Nas ruas e nas urnas.

Texto por Afrolink

Foto de capa de Rafael Medeiros

O Bloco de Esquerda (BE) quer “Fazer o que nunca foi feito”, e Anabela Rodrigues, candidata do partido às Legislativas, pelo círculo eleitoral de Lisboa, antecipa um pouco do caminho que está por cumprir.

“Encerro em mim muitas contradições deste nosso país”, começou por dizer a mediadora cultural e activista anti-racista, no comício realizado pelo BE, no passado sábado, 10.

Na ocasião, “Belinha”, como também é conhecida, recordou a herança de séculos de escravatura e de décadas de colonialismo, e constatou que 50 anos após o 25 de Abril, “continuamos a lutar pela Vida Boa”.

Apresentando-se como “filha da Maria, mulher de uma ex-colónia portuguesa, empregada doméstica e de limpeza durante a sua vida em Portugal”, a candidata do BE nota que a história da sua mãe, que remonta aos anos 70, “é ainda um espelho dos e das imigrantes que escolhem Portugal para viver, para construir uma família, para envelhecer, neste século XXI”.

Do passado para o presente, o que há em comum?

A par do “sonho de uma vida boa”, persistem políticas de exclusão.

“Centenas de medidas de diferentes governos, com perspectiva de Integração dos Imigrantes para o combate ao desemprego, à exploração, à pobreza, à violência doméstica e pelo acesso aos serviços públicos de qualidade em plena igualdade de oportunidades, insistem em não os incluir na tomada de decisões”, observa Anabela, que chama mesmo a atenção para a opção “gritante em manter uma segregação dos cidadãos/as estrangeiros em relação aos nacionais”.

Expressão dessa prática, acrescenta a activista, é a criação de “serviços especiais” e de “planos especiais”, como se as metas nacionais não tivessem de integrar uma visão para todos.

Para piorar o cenário, “esses serviços especiais não são de qualidade”, trazendo, a despeito dos direitos previstos, “tempos longos de espera, muitas incertezas, muitas respostas negativas”.

Com vasta experiência profissional na área das migrações, Anabela alerta para as diferenças no acolhimento de imigrantes: “Os serviços deveriam acolher todos de forma eficaz e eficiente, e não escolhendo tipo ‘menu à la carte’ quais os imigrantes que vão ter mais privilégios que outros”.

Peremptória em defender uma “maior partilha de valores, receptivos à diversidade cultural, aos saberes e experiências desta cidadania universal transportada e vivenciada pelos povos que nos procuram”, a mediadora sublinha não acreditar na “Europa Fortaleza”.

Inspiração cabralista

Trazendo para o discurso o pensamento de Amílcar Cabral, Anabela adianta que “a luta é uma condição normal de todos os seres no mundo”. Significa que “todos estão em luta, todos lutam”. Mas, prossegue Anabela, “no nosso caso concreto, a luta é o seguinte: Somos parte deste país. Queremos uma vida boa, e não queremos continuar oprimidos/as, não queremos continuar uma vida de miséria, de exploração laboral, de sofrimento constante para ter um tecto sobre a cabeça, um sistema de saúde”.

Focando-se na disputa eleitoral, a candidata do Bloco apela à “unidade nas nossas diferenças, para lutar contra os racistas, ou xenófobos, os homofóbicos, os fascistas, que continuam a manter um sistema capitalista, que nos segrega, que nos sufoca, que nos mata. Que insiste em nos colocar uns contra os outros procurando bodes expiatórios nos oprimidos/as”.

O repto é reiterado no final da intervenção: “Sim queremos vida boa, os imigrantes e as imigrantes, os negros e negros, a comunidade cigana”. Afinal, reforça Anabela “não foram nem eles nem elas que criaram os vistos gold, que possuem contas milionárias, que vivem em mansões, que são alvo de crimes de corrupção de milhões”.

Do mesmo modo, a activista sublinha que “em 50 anos, num parlamento onde há 230 lugares, a representação de imigrantes ou comunidades racializadas ainda não chega aos dedos das nossas mãos”.

Confiante de que “é possível uma vida boa”, Anabela garante que está nesta corrida segura da realidade, e comprometida com o bem comum.

“É na rua que vamos conseguir os votos, é no diálogo com a nossa vizinha, com os nossos colegas que vamos ganhar votos. Na nossa luta que todos os dias fazemos é que vamos conseguir os votos para mantermos ideias políticas de esquerda que servem o povo e não os privilegiados de sempre”.

Assim se faça o que tem de ser feito!