As fronteiras que salvam e condenam vidas, num mapa da cor do racismo

Nem perante as evidências de uma selecção racial de humanos na fuga à guerra na Ucrânia – humanos esses separados entre brancos que devem ser salvos e todos os outros que merecem a condenação –, há um reconhecimento veemente de que o racismo mata. Aliás, a narrativa mediática começou por desvalorizar a situação, falando em africanos barrados – e, já se sabe, por “esses” não vale a pena mobilizar comoção. Poderia ser cómico se não fosse trágico. Mas enquanto uns continuam mais focados em justificar o injustificável, em vez de reconhecerem o óbvio, as nossas vidas negras e racializadas persistem ameaçadas. O tema, bem retratado pelo desenhador Fredy Varela na imagem partilhada neste artigo, vai estar em análise mais logo n’ O Lado Negro da Força.

por Afrolink

As imagens e os testemunhos são inequívocos: no agonizante movimento de fuga à guerra, pessoas não-brancas estão a ser travadas. Seja na saída da Ucrânia, seja na entrada nos países vizinhos. Mas, nem perante as evidências de uma selecção racial de humanos – separados entre brancos que devem ser salvos e todos os outros que merecem a condenação –, há um reconhecimento veemente de que o racismo mata.

O problema, apontam uns, não é a cor da pele, e sim a “compreensível” opção de os países darem prioridade “aos seus”.  “Mais ainda em tempos de guerra”, chegamos a ler, enquanto pensamos na facilidade com que algumas pessoas se apressam a defender o indefensável apenas para não enxergar o óbvio.

Aliás, a narrativa mediática começou por desvalorizar a situação, falando em africanos barrados – e, já se sabe, por “esses” não vale a pena mobilizar comoção. Mas, para o bem e para o mal, ainda temos as redes sociais que expuseram, com toda a sua virulência e violência, que, afinal isto do racismo não é um “problema de classe”. Perdão, de nacionalidade. Mesmo as nacionalidades bem cotadas na bolsa de seres humanos acabam reduzidas à cromática realidade de todos os dias: no sistema racista em que vivemos, e que herdámos de tempos imperiais e coloniais, é a cor que define as fronteiras da humanidade, e quem não é branco é atirado para o limiar do inumano.

A atrocidade está à vista, mas, ainda assim, o drama a considerar, lembram muitos, não é o racismo, mas o facto de haver uma guerra na Europa. Ênfase na Europa, porque a Etiópia e outros países do “mundo não civilizado”, não entram no mapa-humano cujas fronteiras vale a pena respeitar.

Precisamos de reconhecer esses e outros vieses para os combater. Até lá a nossa luta continua, e passa pelo Lado Negro da Força.

O link que o Afrolink partilha de seguida, com informação que está em actualização, representa mais um importante acto de resistência. Partilhemos!

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