As mãos de Caroline celebram raízes africanas, com a força Akwabá

Lançada em Angola em 2018, a marca “Suave Molécula”, especializada na venda online de produtos artesanais e naturais, chegou a Portugal há um par de meses, com a mudança de país da sua criadora, a suíço-angolana Caroline Bamba M´Boua. Fomos conhecê-la e, no coração de Lisboa, sentimos a força da tradição Akwaba. Ao serviço de um maior e melhor cuidado das raízes africanas.

por Paula Cardoso

Separadas ou misturadas, as palavras karité e cacau, associadas a manteiga, já a acompanhavam há algum tempo. Fosse por aparecerem na lista de ingredientes-estrela da habitual – e multinacional – loja de produtos naturais, fosse por abrilhantarem os últimos lançamentos da indústria mundial de cosmética.

Mas foi longe do aparato mediático do mercado de consumo global que Caroline Bamba M’ Boua despertou para o significado daqueles nomes, até aí circunscritos a um universo puramente comercial.

“Já tinha ouvido falar, mas foi na viagem que fiz à Costa do Marfim, em 2007, que descobri a manteiga de karité e a manteiga de cacau”, conta, recuando a história até ao ano do seu casamento religioso, celebrado em Abidjan, terra do marido.

“Não sei a razão, se é por causa do ambiente, se por outro motivo, mas gosto muito de conhecer mercados. Muitas vezes vou sem procurar nada de especial, e numa dessas idas encontrei esses dois produtos que me viraram a cabeça”, diz Caroline, de volta às primeiras bolas de manteiga de karité e de cacau.

“Já tinha em mente que era algo rico, para o cabelo e para a pele, mas só percebi em que medida quando comecei a fazer as minhas chantillys, quando me comecei a aperceber das diferentes texturas, cores e cheiros”.

Colectivo de artesãs

Dose a dose, de preparado em preparado, as chantillys de Caroline – que não se devem confundir com a ‘espuma’ culinária que adoça incontáveis receitas – tornaram-se de tal forma populares entre a família e amigos que inspiraram a criação da “Suave Molécula”.

Lançada em 2018 em Angola, a marca mudou-se recentemente para Portugal, mas manteve a fórmula: a especialização na venda online de produtos artesanais e naturais.

Para além das chantillys de manteiga de karité e de manteiga de cacau, manualmente confeccionadas por Caroline, a loja da “Suave Molécula” disponibiliza criações de outras artesãs. Como os artigos de pano africano da Ditwka ou da Nhaluany, ou o mel e chás da Alquimia dos Sabores.

Seja qual for a oferta presente na concept store, todas promovem o trabalho de “mulheres que se atiraram para a frente”, mesmo sabendo que “não é fácil viver do artesanato”, destaca Caroline.

 

Cultura Akwaba

O espírito comunitário também se evidencia na identidade das chantillys, apresentadas sob o rótulo “Akwabá”.

O termo, proveniente da língua Akan, é originário do Gana – ou melhor, do antigo Reino Ashanti –, e surge com um toque pessoal: a acentuação.

Mas o diferencial não se limita à grafia. Aplicada à produção artesanal de Caroline, “Akwaba”, que em tradução literal significa “Bem-Vindo” ou “Bem-Vinda”, vai muito além da palavra: representa um sentimento, uma forma de ser e de estar.

Ou, na explicação partilhada pela criadora no Instagram, o termo verbaliza, mais do que uma saudação circunstancial, uma atitude de empatia e de abertura ao ‘outro’. Como se por cada “Akwaba” ressoasse: “Espero que tenhas viajado bem, que te sintas bem, e que saibas que estou aqui”.

Ancestralidades a multiplicar

Na história de Caroline Bamba M´Boua, a palavra ganha ainda o sentido de descoberta: a própria, iniciada naquele mercado de Abidjan, em 2007, com o fascínio pelas manteigas no seu estado natural; e a de todos os que se predisponham a acompanhá-la nessa viagem.

“É um convite à abertura a novos saberes, saberes ancestrais, que foram passados de família em família, de geração em geração, e que ainda hoje nos permitem gozar do que a mãe Natureza nos oferece. É também um convite de entrada no meu mundo”, desafia a criadora da “Suave Molécula”.

Nascida em Luanda há 42 anos, filha de mãe suíça e pai angolano, Caroline trabalhou 13 anos no ramo petrolífero antes de empreender como artesã.

A experiência no mundo corporativo, vivida em Angola, foi ainda precedida de uma temporada de dois anos em Genebra, e dos estudos superiores em Administração Económica e Social, concluídos na cidade francesa de Toulouse.

Agora em Lisboa, para onde se mudou com o marido e os três filhos, a suíço-angolana não tem dúvidas de que há mercado para afirmar a identidade “Akwabá”.

Atenção às raízes

Mais do que comercializar as suas chantillys de manteiga de karité e de manteiga de cacau, a empreendedora partilha os saberes capilares – e cutâneos – que acumula desde as primeiras vendas.

“O que percebi, quando testei o produto, é que as pessoas não conhecem o seu cabelo. Por isso, além de terem milhares de perguntas sobre como utilizar o creme –  o que é normal –, acabam por ter outras milhares de perguntas sobre aquilo que o cabelo precisa. Aí percebi que havia uma necessidade a responder”.

O ‘diagnóstico’ deu origem a várias ‘prescrições’ de cuidados capilares, publicadas no Instagram da “Suave Molécula” e na área blogue do site.

A cada partilha, encontra-se a assinatura de marca de Caroline: “Sinta o mundo!”. Fica o convite.

Contactos:

Entre na loja “Suave Molécula” a partir do site oficial

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