“Conhecer António é conhecer mais Lisboa”, para além do que se exclui ver

Herdeiro de uma história familiar de luta anti-fascista, António Brito Guterres encontrou em casa os estímulos que favoreceram a construção de um pensamento político crítico, a partir dos primeiros anos de adolescência amadurecido nas periferias de Lisboa, centrais em todo o trabalho que desenvolve. É licenciado em Serviço Social, mestre em Estudos Urbanos, área de estudos doutorais e de investigação académica, e autor do programa de rádio “Cidade Invisível”. “A minha profissão sempre foi trabalhar no território perto das pessoas, no que pretendem fazer, nas suas capacidades e potência”, abrevia, numa das conversas que antecedem a próxima, amanhã, n’ O Lado Negro da Força. Para ver a partir das 21h.

por Afrolink

Se a militância de António Brito Guterres desse um filme, talvez o título pudesse ser “um eléctrico chamado curiosidade”. Criado no centro de Lisboa, onde nasceu em 1978, o hoje dinamizador comunitário encontrou nas viagens de transportes públicos algumas das respostas que lhe atravessavam os dias.

“Comecei a procurar pertenças que não tinha”, contou em entrevista ao espaço de conversas “Não grites, olha os vizinhos”, da autoria de Vítor Belanciano.

Nessa busca, pela Lisboa diversa e multicultural que via durante o dia, e que desaparecia ao cair da noite, Brito Guterres encontrou a realidade dos bairros sociais, ‘empurrados’ para o fim da linha.

“Apanhava eléctricos ao calhas para sítios que tinham ‘comunidade’”.

O vaivém de viagens, de terminal em terminal, amadureceu a consciência política – desde sempre presente no contexto familiar pela luta anti-facista –, consolidada nas escolhas profissionais.

Licenciado em Serviço Social, o dinamizador comunitário Social e também mestre em Estudos Urbanos, área de estudos doutorais e de investigação académica.

“A minha profissão sempre foi trabalhar no território perto das pessoas, no que pretendem fazer, nas suas capacidades e potência”, apontou em entrevista à plataforma Siso, centrada na ascensão da extrema-direita em Portugal.

“O Estado, ao negligenciar certo tipo de coisas, permitiu que isto acontecesse. Não é admissível teres um Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que só fala português com as pessoas. Não é admissível que uma pessoa vá ao centro de saúde e não seja atendida porque não consegue explicar o que se está a passar. Os serviços do Estado – educação, saúde – têm de estar preparados para a variedade de linguagens que existe [no nosso país]. E isso, até do ponto-de-vista do liberalismo – e mal de mim estar a dizer isto -, é um ganho: ganhas múltiplas linguagens, olhares, contextos, várias codificações”.

O abandono do Estado liga-se ao surgimento de novas lideranças nos bairros sociais da área metropolitana de Lisboa, que Brito Guterres nos dá a conhecer no programa de rádio “Cidade Invisível”, transmitido na Antena 1.

Não surpreende, por isso, que o seu nome se tenha tornado incontornável na leitura do mapa da capital portuguesa.  “Conhecer António é conhecer mais Lisboa”, simplifica o director de teatro brasileiro Marcus Faustini.

Nós temos visita-guiada marcada para amanhã, no Lado Negro da Força.

 

Para ver no Facebook e no YouTube, a partir das 21h.