Da casa da mãe Joana para o mundo,
ao som da força da mulher africana

Desde os sete anos órfão de pai, Ivander Costa cresceu a testemunhar os sacrifícios da mãe, Dona Joana, para criar os cinco filhos. O exemplo de determinação, força e resiliência inspirou-o a criar uma música, elevada ao número 1 do top da Rádio de Cabo Verde. Para ouvir sem fronteiras, como uma homenagem à mulher.

por Paula Cardoso

Viúva, doméstica, e com cinco crianças para alimentar e educar, Joana tornou-se, aos olhos do filho Ivander, uma poderosa guerreira.

“Vi todo o sacrifício da minha mãe para nos criar, sem nunca deixar faltar nada em casa, sempre com aquela garra. Se fosse chorar, por exemplo, nunca chorava à nossa frente”.

Mais do que reconhecer a dedicação e capacidade de superação materna, testemunhadas desde a infância – “o meu pai faleceu quando eu tinha uns sete anos” –, Ivander fez dela música.

“Joana”, a canção, foi lançada nas plataformas digitais no passado dia 11 de Julho, e depressa se converteu num hino à resiliência feminina.

“Está no top 10 da Rádio de Cabo Verde, com o primeiro lugar, porque muitas pessoas se identificaram com a história”, diz Ivander Costa, rebaptizado Ivander Peps como expressão de outra homenagem familiar.

“O meu filho chama-se Pedro, e começámos a chamá-lo de Peps. Como estava a criar um nome artístico achei que Ivander ia bem com Peps”.

Pintor a tempo inteiro, músico nas horas vagas

A identidade musical deste intérprete ocasional – “para mim cantar é um hobby” – aprimora-se desde o nascimento do primogénito, há uma década, e, nos últimos seis anos fortalece-se nos Estados Unidos.

Natural da ilha de Santo Antão, Ivander partiu de Cabo Verde com a mulher e o filho, animado pelo sonho da emigração, já materializado em novas oportunidades.

“Desde que cheguei, nunca passei por dificuldades. Trabalho, consigo as minhas coisas, consigo ajudar a minha mãe e irmãos, por isso posso dizer que a adaptação foi boa”.

 

A experiência americana vive-se no estado de Rhode Island, e tem como pilar profissional um negócio de pintura de casas, desenvolvido em parceria com um colega.

“Seria hipocrisia da minha parte dizer que não gostaria de viver só da música”, admite Ivander, sublinhando, contudo, que a possibilidade de um futuro artístico não o retira de um presente de realização.

“Sou feliz naquilo que faço. Se o sucesso na música acontecer, ok, mas, se não, continuarei feliz na mesma”.

Milhares de seguidores online

Autor da maioria dos temas que interpreta, e que estão disponíveis no Spotify, Ivander também divulga as suas criações no YouTube, Facebook e Instagram, redes onde movimenta milhares de seguidores.

Apesar da popularidade online – a canção Joana conseguiu quase 45 mil visualizações no YouTube, em pouco mais de duas semanas de exibição –, o cabo-verdiano entende que ainda não tem fãs.

“Diria apenas que há  pessoas que gostam das minhas músicas”.

A preferência mede-se não apenas pelas visualizações nas redes sociais, e pelo primeiro lugar no top 10+ da Rádio de Cabo Verde, mas também pela nomeação para os “Red Carpets Awards”.

A indicação, nas duas edições da gala já realizadas, em 2018 e em 2019, contemplou os temas “100% Kriolo” e “Psu Nhondenga”, respectivamente, nomeados para as categorias “Música Popular” e “Melhor Música Tradicional de Cabo Verde”.

“Joana”, o recém-lançado single, que conta com a participação do rapper Batchart, apresenta-se como um sério candidato aos Prémios de 2020.

Somos todas Joana!

Até lá, o tema continua a conquistar os ouvintes da Rádio Cabo Verde, e os internautas que, de todo o mundo, acedem à gravação no YouTube, na qual a mãe de Ivander é a figura feminina principal.

“Dei o nome da música em homenagem à minha mãe, que aparece no vídeo, mas a música fala para todas as mulheres cabo-verdianas, africanas, e não só, que passaram pela experiência de criar os filhos sozinhas, de batalhar para não faltar nada em casa”.

No caso da mãe Joana, a monoparentalidade viveu-se a partir da morte do companheiro, mas, em muitas outras famílias, essa é uma condição resultante de situações de abandono, realidade expressa na canção criada por Ivander.

“A minha história de vida ensinou-me ter imenso respeito pelas mulheres”, reforça o artista, incansável no reconhecimento feminino: “Vocês são umas guerreiras”. Ou, como reza a música, somos todas Joana!