Da “Favela no Feminino” ao acto “Parem de Nos Matar”, Bárbara solta o verbo

Professora e activista, Bárbara Nascimento é fundadora do colectivo “Favela no Feminino” e idealizadora do acto “Parem de Nos Matar”. A iniciativa, de 2019, surgiu como repúdio à política de extermínio da população negra e periférica do Rio de Janeiro, a cidade onde Bárbara nasceu, vive e trabalha, e à qual nos ligamos amanhã, na emissão semanal d’ O Lado Negro da Força. A partir desta quinta-feira com início às 21h.

por Afrolink

O grito soltou-se na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, e depressa ecoou por outras comunidades periféricas do estado carioca: “Parem de nos matar”. Em forma de protesto, contra a política de extermínio da população negra e periférica desse estado brasileiro, o grito soou com tanto estrondo que hoje, cerca de dois anos depois de se fazer ouvir pela primeira vez, assume a dimensão de um fórum com activistas de diversas localidades.

Tudo graças à iniciativa da professora Bárbara Nascimento, que também é moradora do Vidigal, bairro onde nasceu, cresceu, trabalha como professora, e luta, entre outras causas, pelo direito da sua comunidade a aí permanecer.

“O Vidigal está localizado entre os bairros mais caros da zona sul do Rio de Janeiro, o que motivou o início de uma gentrificação durante os eventos sediados na cidade, em 2012 e 2016”, explica a activista.

Recorde-se que esses dois anos ficaram marcados pela realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, e pela organização dos Jogos OIímpicos.

A luta do Vidigal pela permanência da comunidade 

Entre um evento e outro, o Vidigal atraiu ampla cobertura mediática, com rumores de que figuras como David Beckham, Madonna e Kanye West já tinham rendido aos atributos do bairro, através da compra de moradias no bairro.

As parangonas na imprensa sobre os potenciais novos residentes, difundidas nos media brasileiros e estrangeiros, tornaram-se sinónimo de notícias de despejo para os residentes de sempre, incapazes de acompanhar a subida de preços da zona.

Para combater esse movimento de expulsão dos velhos moradores, Bárbara, que é mestre em Memória Social, recorre à  “história de seu lugar de origem, narrada pelos seus, como instrumento de luta pela permanência”.

Nessa intervenção comunitária, destaca-se também a sua colaboração como comunicadora periférica do “Portal Favelas”, veículo que lhe trouxe a oportunidade de entrevistar Benedita da Silva, uma das candidatas negras à prefeitura do Rio de Janeiro, e o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva.

A assinatura activista da professora também está presente na sua presença, enquanto directora de comunidade, na plataforma global de jornalismo independente Frontfiles, voltada para conteúdos produzidos por aqueles que historicamente são silenciados.

A intervenção colectiva feita no feminino

O foco na própria comunidade encontra-se igualmente no colectivo “Favela no Feminino”, que fundou em 2019, com mulheres do Vidigal que foram voluntárias no atendimento às famílias vitimadas pela enchente que atingiu a favela nesse ano.

Dois anos antes, em 2017, Bárbara coordenou a Flup Parque, evento literário que teve como tema a memória do Vidigal.

Um pouco atrás no calendário, a professora integrou o colectivo nacional de mulheres negras “Louva Deusas, ao qual está ligada desde 2013.

A cada intervenção, há um propósito que sobressai: combater as mazelas impostas à população favelada, na sua maioria negra.

Para conhecer amanhã, na emissão semanal d’ O Lado Negro da Força, via Facebook e no YouTube. Agora com início às 21h.