De líder estudantil a ‘justiceira’ social, Sofia Rodrigues põe na política coração

Desde a infância mobilizada para cuidar dos outros, Sofia Rodrigues foi líder estudantil, sonhou ser jornalista, e também quis estudar Direito. Foi, contudo, no Serviço Social que encontrou o caminho para fazer justiça. Filha de cabo-verdianos criada no Monte da Caparica, em Almada, a hoje formadora partilha a vontade de integrar “novos movimentos sociais livres das amarras do clientelismo partidário”, sem esquecer uma velha indicação dos amigos: “Tens de ir para a política”. Entre as palavras de quem a conhece e a própria acção, Sofia reforça propósitos. “Quando os amigos o dizem porque defendemos os outros, porque os ajudamos nos seus problemas, porque lideramos movimentos de mudança, é porque a política está no sítio certo – o do coração”. Hoje pulsamos com ela, no Lado Negro da Força.

por Afrolink

Com a lição materna bem interiorizada – “É estudar, é estudar, é estudar!” –, Sofia Rodrigues licenciou-se em Serviço Social, depois de ter ponderado cursar Direito e sonhado com uma carreira no Jornalismo.

“Tinha um grande interesse nos livros, de sair, de ir para as colónias de férias”, recorda, desfiando algumas das notas que marcam a sua biografia.

A par do impacto do ‘mantra’ transmitido pela mãe, a hoje formadora conta como foi influenciada pelos casos de maternidade adolescente que testemunhou. A começar dentro de casa, com a gravidez de uma das irmãs, aos 16 anos.

Ao mesmo tempo, no bairro Monte da Caparica, onde cresceu, no município de Almada, Sofia recorda histórias de raparigas expulsas de casa pelos pais por terem engravidado, situação que agravou ainda mais os desafios da maternidade precoce.

Toda essa experiência activou a sua consciência para a importância da família e da solidariedade intrafamiliar.

Filha de cabo-verdianos, a formadora assinala ainda que a vivência num bairro de realojamento – “cujos horizontes são quase sempre curtos” – favoreceu, desde a infância, o contacto com “a política ao serviço dos outros”.

O contexto comunitário acabou por inspirar o compromisso colectivo, iniciado na escola: “Era delegada de turma, reivindicando aquilo que era necessário mudar”.

A missão transformadora ganha hoje a força de um ‘dever’ de reciprocidade. “Tive apoio na minha infância, fui bolseira na faculdade”, recorda, explicando que sente vontade de “devolver à sociedade tudo aquilo que recebeu anteriormente”.

Uma das formas de o fazer é através do associativismo: é responsável pela criação e gestão do Departamento de Responsabilidade Social da Associação Maense em Portugal.

“A sua vida foi sempre um convite à superação, à resiliência, a manter o rumo e acreditar”, atestam as notas biográficas enviadas ao Lado Negro da Força, antes da presença no directo desta noite.

Consciente de que vivemos num sistema que não permite a normalização de uma mulher negra como ela – que conhece 22 cidades europeias, faz retiros de silêncio, e tem no currículo uma experiência Erasmus, a ida a um Congresso sobre Educação no Brasil, o dirigismo associativista e o voluntariado –, a formadora “quer fazer parte de novos movimentos sociais livres das amarras do clientelismo partidário, onde o foco seja a justiça social”.

O desejo de transformação segue de mãos dadas com uma velha recomendação dos amigos: “Tens de ir para a política”, diziam. Entre as palavras de quem a conhece e a própria acção, Sofia reforça propósitos. “Quando os amigos o dizem porque defendemos os outros, porque os ajudamos nos seus problemas, porque lideramos movimentos de mudança, é porque a política está no sítio certo – o do coração”. Hoje pulsamos com ela, no Lado Negro da Força.

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