De um “joelho todo roto” à cirurgia, uma sentença de morte hospitalar?

A morte de Ismael Borá, mais conhecido por DJ B Show, cerca de um mês depois de uma cirurgia ao joelho, seguida de uma sucessão de queixas ignoradas, voltou a colocar o Hospital Amadora-Sintra sob suspeitas de negligência médica. O caso, denunciado por várias figuras públicas nas redes sociais, ganhou expressão mediática e permitiu, para já, reconhecer à família o direito a uma autópsia, inicialmente negado pelo tribunal. A visibilidade da história também permitiu avançar finalmente com o enterro, quase 15 dias após o falecimento de Ismael, que tinha apenas 30 anos. Mas a situação, em análise mais logo n´O Lado Negro da Força, está ainda longe de um desfecho.

por Afrolink

A morte de uma pessoa de 30 anos, cerca de um mês após ter sido submetida a uma cirurgia, e sem que se lhe conheça qualquer doença pré-existente, deveria, no mínimo, merecer uma autópsia. Mas, não fosse a pressão das redes sociais e, provavelmente, nem isso estaria salvaguardado no caso de Ismael Borá.

Falecido no passado dia 6 de Junho, depois de, a 5 de Maio, ter sido operado ao joelho de urgência, Ismael, ou simplesmente DJ B Show, tornou-se mais um caso no Hospital Amadora-Sintra sob suspeitas de negligência médica.

A situação, denunciada por Cátia Borá, irmã da vítima e enfermeira, ganhou expressão mediática na semana passada, a partir das redes sociais de uma série de figuras públicas, que partilharam o apelo à Justiça lançado pela família.

Na mensagem, encontramos não apenas uma cronologia do processo clínico de Ismael, como informações detalhadas sobre o atendimento, tratamento e acompanhamento médico que recebeu, elementos fornecidos por Cátia, num relato minucioso, ancorado na sua experiência profissional.

9h30 nas urgências, sintomas sucessivamente ignorados

“O Ismael deu entrada no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, vulgo Amadora-Sintra por volta das 23 horas no dia 3 de Maio, depois de um jogo de futebol em que se lesionou no joelho esquerdo. Levou mais de 6 horas para ser atendido e, quando foi, o médico referiu-se à lesão como ‘tens o joelho todo roto… Vais ter que ser operado de urgência’”, descreve a enfermeira, acrescentando que o irmão “não tinha qualquer antecedente pessoal, não tinha qualquer patologia”.

Face à gravidade da lesão (fractura do quadricípite), comprovada por exames complementares de diagnóstico efectuados no dia seguinte, a intervenção aconteceu de urgência no dia 5 de Maio, entre as 17h e as 20h, conduzida pela equipa de Ortopedia do Amadora-Sintra.

Seguiu-se um calvário de queixas, com destaque para “tonturas, náuseas, vómitos e cefaleias intensas”, mas Ismael acabou mesmo por receber alta a 8 de Maio.

Já em casa, o quadro não melhorou, relata Cátia, explicando que embora o irmão tivesse consulta marcada para 1 de Junho, os sintomas tornaram-se tão insuportáveis que, na véspera, a 31 de Maio, deu entrada nas urgências.

Ali ficou 9h30 até realizar um único exame, garante a família, referindo-se a um RaioX de tórax simples.

“O Ismael foi para casa. Continuou com os mesmos sintomas, não conseguindo sequer alimentar-se nos dias seguintes. No dia 6 de Junho, pelas 15h, começou novamente com um quadro de tremores, sudorese [transpiração] intensa, náuseas, estava cianótico [arroxeado], com falta de ar, taquicardia, dor torácica. Foram contactados os serviços de Emergência Médica, que demoraram mais de 1h a chegar ao local, tendo o Ismael vindo a falecer nesse mesmo dia, ao que tudo indica de uma TEP (Trombo Embolismo Pulmonar – segundo a médica do INEM)”.

O relato dos acontecimentos feito por Cátia Borá, e que se tornou viral a partir de publicações de artistas como Kiara Timas, Dino D’ Santigo e Ruben Matay, teve, entretanto, uma actualização.

Depois de o Tribunal de Sintra ter comunicado que a autópsia não seria realizada, a família viu esse direito ser-lhe reconhecido, anunciou a irmã de Ismael no programa “Júlia”, transmitido na última sexta-feira, 18

Espera-se agora que o resultado da autópsia permita explicar como é que uma cirurgia ao joelho se transformou numa sentença de morte.

Até lá, a mobilização colectiva continua, conforme assinou Dino D’ Santiago: “Não silenciaremos até que se faça justiça, honrando assim a morte de mais um artista que o silêncio levou!”.

O Lado Negro da Força junta-se ao repto, que inclui uma campanha de crowdfunding para apoiar a família com as despesas do funeral. Hoje com o actor Hoji Fortuna como convidado.

 

Para ver no Facebook e no YouTube, a partir das 21h.