“Décadas de decisões discriminatórias”, numa fractura social exposta

Em contexto de pandemia, as violações dos Direitos Humanos agravaram-se um pouco por todo o globo, assinala a Amnistia Internacional, no seu relatório anual. O documento, recém-divulgado, analisou 149 países, num mapa onde Portugal se destaca sobretudo pelo assassinato do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, às mãos do SEF no aeroporto, e também pela “discriminação racial continuada contra comunidades ciganas e pessoas de ascendência africana na educação, emprego e habitação, e quanto a relatos de discurso e crimes de ódio”. Um diagnóstico sob observação mais logo, n’ O Lado Negro da Força. Para ver a partir das 21h.

por Afrolink

Sempre esteve à vista na lotação dos transportes públicos. Também se percebia no funcionamento dos supermercados, nos edifícios que continuaram em construção, ou nas entregas de refeições ao domicílio. Na linha da frente dos que não puderam e continuam a não poder confinar encontramos muitos trabalhadores negros. São essenciais, mais continuam a ser tratados como cidadãos marginais.

Não apenas em Portugal, mas também noutros países, a pandemia de covid-19 agravou os efeitos de “décadas de decisões discriminatórias”.

“Por exemplo, muitas das pessoas que ficaram doentes nos concelhos limítrofes de Lisboa são mulheres, que fazem limpeza e manutenção de equipamentos e que nunca puderam parar”,assinala Pedro A. Neto, director executivo da Amnistia Internacional Portugal.

Em declarações ao Público, a propósito da divulgação do relatório anual, intitulado “O Estado dos Direitos Humanos no Mundo”, o responsável chama a atenção para as intersecções que atravessam o documento.

“Grupos que têm salários muito baixos foram os que deram mais e receberam menos”

Pedro Neto refere que embora o diagnóstico feito a Portugal seja parco na análise sobre a discriminação, o problema não deve ser lido com menor preocupação.

Neste capítulo, o documento destaca a morte do ucraniano Ihor Homeniuk, espancado por agentes do SEF no aeroporto, e menciona as preocupações expressas pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU em relação ao país, “quanto à discriminação racial continuada contra comunidades ciganas e pessoas de ascendência africana na educação, emprego e habitação, e quanto a relatos de discurso e crimes de ódio”.

Essa breve descrição não nos deve distrair de uma reflexão alargada, defende o director executivo da Amnistia Internacional Portugal, sublinhando que a discriminação está presente nos outros capítulos sobre os quais incide o diagnóstico luso. 

“A discriminação é aquilo que está em todas as entradas, na discriminação por classe social no direito à saúde​, ou na discriminação racial, de género e de classe social no direito à habitação”.

Isso mesmo demonstram os dados epidemiológicos: ao mesmo tempo que se observa que muitos dos doentes nas periferias de Lisboa são mulheres, também se nota que muitas são pobres e de ascendência africana.

“Grupos que têm salários muito baixos foram os que deram mais e receberam menos”, resumiu ao Público Pedro A. Neto.

Estas e outras conclusões acompanham-nos mais logo n’O Lado Negro da Força. Hoje com a activista Angella Graça como convidada.

 

Para ver, no Facebook e no YouTube, todas as quintas-feiras, a partir das 21h.