Dinheiro negro em notas de exploração mineira, no mercado da desumanização

Inaugurada no último fim-de-semana, em Lisboa, a exposição “Blackmoney”, do artista moçambicano Mauro Pinto, confronta-nos com retratos humanos da desumanidade laboral, que se enterra sob jogadas lucrativas do mercado de extracção de minério e combustíveis fósseis. Para ver, gratuitamente, até 7 de Novembro.

Exposição “Blackmoney”

Exposição “Blackmoney”

por Afrolink

Os corpos, suados e mirrados, esvaziam-se de vida num cenário de trevas. Os olhares carregam o peso da força braçal, convocada para o manuseio da pá e da picareta. De pose em enquadramento, numa série de 17 retratos expostos na galeria 111, em Lisboa, somos assaltados pela desumanidade da humanidade.

“É uma chamada de atenção para o valor da força de trabalho humano que nos confronta ao observarmos figuras e fragmentos de corpos marcados pela violência e dureza da extracção de minério e de combustíveis fósseis, neste caso na província de Tete, em Moçambique”, considera o curador João Silvério, na mensagem que apresenta a mais recente exposição do artista moçambicano Mauro Pinto.

Intitulada “Blackmoney”, a mostra inclui fotografias que integraram o projecto “The Past, The Present and The In Between”, que o Pavilhão de Moçambique expôs na Bienal Internacional de Arte de Veneza de 2019, como reflexão do passado do país, e do seu impacto no presente.

“Mas estas imagens não ficam reféns de uma geografia local retratada de forma episódica. Pelo contrário”, nota o curador, que encontra nelas “sinalizações da acção coerciva de políticas e intervenções empresariais que vão subtraindo, ali e noutras áreas do mundo, a sustentabilidade, a cultura e a dignidade humana como força necessária ao trabalho nas entranhas da terra”.

Inaugurada no último fim-de-semana, a mostra marca o regresso de Mauro Pinto às exposições individuais em Portugal, depois de, em 2015, ter apresentado “Dá Licença/ Excuse me”, no Palácio Cadaval, em Évora.

Imagens de crítica

Agora em Lisboa, o moçambicano volta a demonstrar o sentido crítico do seu trabalho.

“Enquanto artista que trabalha a imagem fotográfica, o seu posicionamento político situa-se numa perspetiva que se inscreve numa abordagem antropológica de uma das muitas formas como poderemos observar a humanidade”, considera João Silvério, depois de lembrar que, “na obra de Mauro Pinto, somos chamados a um encontro com o espaço social e com as condições de vida, e existenciais, de uma sociedade que se encontra em permanente interrogação”.

 

O trabalho do moçambicano, já premiado em Portugal – com a atribuição do BESPhoto de 2012 – pode ser visto na exposição “Blackmoney”, de terça-feira a sábado, e de forma gratuita, até 7 de Novembro.

As fotografias da série ‘Blackmoney’ podem ser entendidas como o dinheiro negro, numa tradução mais literal, que é o valor dos meios de trabalho para a extracção dos diferentes minérios”. Num mercado de desumanização.