Fixar territórios da memória, pelo olhar
de africanos e afrodescendentes

O CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde acolhe, até ao próximo dia 27 de Novembro, a exposição “Territórios da Memória – A Área Metropolitana de Lisboa pelo Olhar de Africanos e Afrodescendentes”, que apresenta, pela primeira vez ao público, registos recolhidos no âmbito dos projectos de investigação AFRO-PORT – Afrodescendência em Portugal e Discursos Memoralistas da História. Para descobrir, de forma gratuita, entre imagens do fotógrafo Herberto Smith.

por Afrolink

Preparam-se alimentos, manuseiam-se panelas, domestica-se fogo, servem-se refeições, ultimam-se os derradeiros passos para a procissão. Sempre em colectivo, os movimentos alinham-se na homenagem a São Miguel Arcanjo, e estão documentados numa série de  cerca de 40 fotografias captadas por Herbert Smith.

As imagens integram a exposição “Territórios da Memória – A Área Metropolitana de Lisboa pelo Olhar de Africanos e Afrodescendentes”, patente até ao próximo dia 27 de Novembro, no CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde.

Com curadoria de Ana Rita Alves e Simone Amorim, a mostra exibe pela primeira vez ao público os registos recolhidos no âmbito dos projectos de investigação “AFRO-PORT Afrodescendência em Portugal” e “Discursos Memoralistas da História”.

O primeiro tem como morada o Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento/ISEG, enquanto o outro fixa-se no Centro de Estudos Comparatistas/FLUL.

Mas é no Casal da Mira, na Amadora, que se encontra a casa que dá história à exposição “Territórios da Memória – A Área Metropolitana de Lisboa pelo Olhar de Africanos e Afrodescendentes”.

Movimento negro, recomposto

Por ali, “há 12 anos que o movimento se repete, que se descem e sobem escadas, que se demolha o feijão e que se cozinha até que a noite acabe”, introduz a mensagem de enquadramento da mostra, inaugurada no passado dia 19 de Outubro.

O texto, assinado por Ana Rita Alves, investigadora do Projecto AFRO-PORT e doutoranda no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, explica-nos que o culto a São Miguel “invoca o passado de mulheres e homens que migraram de Cabo Verde, São Tomé ou Angola para Lisboa”.

Já o seu presente, assinala a especialista, “reconta como se recompõe a presença de um movimento negro, em constância, há séculos, em Portugal, mas que a história oficial teima em não canonizar”.

“Celebrar o São Miguel, no bairro do Casal da Mira, é religiosidade, mas é também família, comunidade, união e resistência que se constrói diária e autonomamente, nas periferias de cidades como Lisboa e Amadora”, assinala Ana Rita. Entre legendas de festa.

 A exposição “Territórios da Memória – A Área Metropolitana de Lisboa pelo Olhar de Africanos e Afrodescendentes” pode ser vista até 27 de novembro CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde, situado próximo ao Largo do Rato e aberto de segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.