Gravidez, parto e pós-parto: uma pesquisa pela saúde das mães negras

Que cuidados médicos e assistência na área da saúde na gravidez e parto são prestados às mulheres negras e afrodescendentes em Portugal? À falta de estatísticas étnico-raciais no país, o recém-criado colectivo SaMaNe – Saúde das Mães Negras lançou uma pesquisa. Apoiamos e divulgamos!

Carolina Coimbra

Laura Brito

Rita Nunes Correia

por Afrolink

Nos EUA “as mulheres negras têm entre três a quatro vezes mais probabilidades de morrer de complicações no parto do que as mulheres brancas”, enquanto no Reino Unido a “probabilidade de uma mulher negra morrer é de 1 em 2500, valor cinco vezes mais baixo nas mulheres brancas”.

Já em Portugal, alerta a socióloga Carolina Coimbra, prevalece a ideia de que as mulheres negras “são fortes e aguentam bem as dores”, ao mesmo tempo que se observa que “as mulheres imigrantes e de grupos de minoria étnica tendem a ter mais bebés prematuros e/ou de baixo peso”.

Os dados foram partilhados em Junho do ano passado no artigo “A Diversidade Cultural e a Saúde Materna”, publicado na página da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, da qual a também doula e activista é membro.

Em busca de mais informação, Carolina lançou um repto nas redes sociais. “Seria muito interessante podermos estudar mais a área da saúde materna em Portugal nas mulheres negras. Alguém se sente desafiado?”.

Cinco mulheres em defesa da Saúde das Mães Negras

Cerca de 10 meses depois do apelo, sobre o qual escrevemos no artigo “Doula a quem escolher: a experiência para um parto positivo, cheio de opções”, voltamos a cruzar-nos com a socióloga, uma das cinco integrantes do recém-criado colectivo SaMaNe – Saúde Mães Negras.

Isis Calado

Karla Costa

Logo do colectivo SaMaNe

Além de Carolina, o grupo é formado por Isis Calado, estudante de Medicina na University College London; Laura Brito, doutoranda no programa de pós-colonialismos e cidadania global, na Faculdade de Economia/CES da Universidade de Coimbra; Karla Costa, doula e estudante de doutoramento em saúde pública na Fiocruz – Brasil; e Rita Nunes Correia, doula e apoio a amamentação, estudante de enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

“Fomos unidas pelo desejo de transformar a realidade de racismo estrutural e social vivenciado pelas mães negras em Portugal, especialmente no que tange ao período da gestação, parto e pós-parto imediato”, explicam as cinco mulheres, no manifesto de apresentação.

Na mesma mensagem, o colectivo assinala que “um dos aspectos que reitera a reprodução do racismo é a quantidade incipiente de informações sobre o público em questão nessas fases da vida, uma vez que a falta de dados contribui para a invisibilização e silenciamento de um possível cenário de violência obstétrica nas mulheres negras em Portugal”. 

Dispostas a “contribuir para a diminuição das desigualdades e iniquidades em saúde das mães negras no país”, Carolina, Isis, Laura, Karla e Rita criaram o questionário “Experiências de gravidez, parto e pós-parto das mães negras e afrodescendentes em Portugal”.

A pesquisa está aberta a todas as mães negras e afrodescendentes que tiveram suas/seus filhas/os em Portugal, e o acesso pode fazer-se por aqui.

Na apresentação da iniciativa, o colectivo SaMaNe lembra que “nem todas as experiências de gravidez, parto e pós-parto são iguais. Algumas são experiências maravilhosas, outras sofrem violências diversas que transformam a gravidez e parto em momentos traumáticos”.

O grupo acrescenta que “a violência obstétrica pode ser considerada uma violência de género”. e que, “no acesso aos cuidados de saúde, durante a gravidez, parto e pós-parto, estas violências traduzem-se por vezes, em comentários depreciativos, demora ou negação de anestesia e intervenções tardias em situações de emergência, entre outros”.

“No caso das mães negras, afrodescendentes e racializadas, trans e não binárias, fora da heteronorma, com algum tipo de incapacidade física, intelectual ou sensorial, as violências e os preconceitos acumulam-se”, prosseguem Carolina, Isis, Laura, Karla e Rita, frisando que “em Portugal, pouco ou nada se sabe sobre estas realidades”. Como tal, “é urgente dar voz a esta causa, e lutar pelos direitos na Gravidez, Parto e Pós-parto”.

Preencha e/ou divulgue o questionário

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