Jipangue: o coração que bate fora do peito de Kalunga, por um futuro melhor
por Afrolink
Na primeira pessoa, arrumam-se as apresentações. “O meu nome é Emanuel Carlos, mas podem tratar-me por Kalunga”, introduz o próximo convidado d’ O Lado Negro da Força.
Nascido em Angola em 1995, a partir dos cinco anos estabelecido com a família em Portugal, e, já na adolescência, de volta ao país de origem, Kalunga decidiu juntar, na rota da vida adulta, um novo destino: a Escócia.
A “reviravolta”, conforme descreve, aconteceu em 2018, já depois de uma nova experiência em Portugal.
“Voltei para ingressar na universidade, e vi que, infelizmente, o país onde cresci não me queria”.
O sentimento de exclusão, combinado com os convites à mudança vindos de alguns amigos que já viviam fora de Portugal, incentivaram a tal “reviravolta”.
“Comecei a ser voluntário para uma associação local – a Intercultural Out Scotland –, onde sou professor de dança dos jovens da comunidade”, conta Kalunga, acrescentando que logo no segundo ano na Escócia, fez uma colaboração com a BBC Scotland.
“Amo a dança, o meu espírito é feito de ritmo, a música toca-me com diferentes sabores e eu deixo-me levar”, destaca o angolano, igualmente movido por uma veia transformadora.
“A realidade do meu povo toca-me no coração, então, sempre foi imperativo para mim que algo tinha de ser feito para que pudéssemos mudar o futuro. Daí nasceu a Jipangue”.
Com a família, por mais oportunidades
Fundada em Junho de 2020, juntamente com outros dois estudantes de ascendência angolana e residentes no Reino Unido – nomeadamente Bruno Manuel e Flávia Miguel –, a associação transporta no nome essa herança africana.
A palavra Jipangue, explicam os criadores, é oriunda do Kimbundu, língua tradicional angolana, e significa família, irmandade ou parente.
Fiel à identidade etimológica, a associação assume como destinatários da intervenção a comunidade africana na diáspora, núcleo que, num futuro próximo, pretende alargar à população residente em África.
“O objectivo da Associação Jipangue é retribuir às comunidades às quais temos tanto orgulho em pertencer. Esta é a nossa maneira de lutar contra este sistema opressivo que se esqueceu de nós, ajudando as nossas comunidades, e certificando que esta juventude terá mais oportunidades do que as gerações prévias”, lê-se numa apresentação feita ao projecto Parceria Afrodescendente.
A missão cumpre-se entre a Escócia e a Serra das Minas, bairro da periferia de Lisboa, onde o hoje líder comunitário cresceu, e onde conheceu o amigo Bruno, outro dos co-fundadores da Jipangue. Mais do que uma associação, o “coração fora do peito” de Kalunga.
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