Jornal “O Negro” reeditado 110 anos depois – pelo direito à nossa memória

A 9 de Março de 1911, estudantes universitários negros em Portugal lançaram o jornal “O Negro”, o primeiro periódico editado de uma geração de activistas que, durante 22 anos, se organizou em torno do pan-africanismo, da luta contra o racismo e da reivindicação de direitos para os territórios colonizados. Cento e dez anos depois, os especialistas Cristina Roldão, José Pereira e Pedro Varela resgatam o título, numa reedição com o projecto editorial Falas Afrikanas. A publicação estará disponível para venda em papel, na próxima terça-feira, 9, dia em que também poderá ser lida em formato digital a partir do Afrolink, e conhecida num especial d’ O Lado Negro da Força.

por Afrolink

Três números bastaram para o jornal “O Negro: Órgão dos Estudantes Africanos de Lisboa” se converter num “marco da luta negra radical, e uma das sementes do movimento que resistiu de 1911 a 1933 (…) até à chegada da ditadura férrea do Estado Novo”.

A relevância histórica da publicação é-nos dada a conhecer na página “Jornal O Negro: 110 anos”, recém-lançada no Facebook, a dias do 110.º aniversário do número de estreia da publicação.

Mais do que celebrar a data, a socióloga Cristina Roldão, o historiador José Pereira e o antropólogo Pedro Varela uniram especializações para republicar, em conjunto com o projecto editorial Falas Afrikanas, os três números de “O Negro”.

A reedição estará disponível em formato físico e digital na próxima terça-feira, 9, exactamente 110 anos após a impressão do primeiro número do jornal.

Mais do que “uma mera comemoração de uma efeméride”, a iniciativa reivindica “o exercício do direito à memória, que é, acima de tudo, um instrumento de combate anti-racista na actualidade”, informam os promotores.

Na mensagem de divulgação do título, disponível no Facebook, destaca-se igualmente que “este foi o primeiro periódico editado de uma geração de activistas que, durante 22 anos, organizou-se em torno do pan-africanismo, da luta contra o racismo e da reivindicação de direitos para os territórios colonizados”.

Pelo fim da desigualdade racial

Dirigido por estudantes universitários negros em Portugal, que reivindicavam “uma África que fosse “propriedade social dos africanos” e não retalhada pelas nações e pessoas que a conquistaram, roubaram e escravizaram”, o jornal “pretendia combater as «iniquidades, opressões e tiranias», apelava à construção de um partido africano, e exigia da República o fim da desigualdade racial”.

Recuperar essas páginas da nossa História, e revelar a importância do movimento negro que nasceu a partir delas, “é ferramenta imprescindível para questionar o silenciamento constante a que a história dos afrodescendentes e africanos é votada na sociedade portuguesa”, lê-se na apresentação da iniciativa. 

A reedição d’ “O Negro” é também uma forma de “homenagear e dar continuidade ao trabalho de Mário Pinto de Andrade, que deixou pistas preciosas para que as gerações seguintes pudessem conhecer a sua presença multissecular em solo português, e a resistência histórica de que são herdeiros”.

O Afrolink junta-se à comemoração, e, na próxima terça-feira, 9, vai disponibilizar o link para acesso gratuito à versão em PDF, cuja edição impressa poderá ser adquirida nas livrarias Letra Livre, Bazofo & Dentu Zona (Cova da Moura) e Tchatuvela.

No mesmo dia, a partir das 21h30, “O Lado Negro da Força” apresenta uma emissão especial sobre o histórico jornal, com a presença de Cristina Roldão, José Pereira em Pedro Varela.

Celebramos!