Lusa tropicalismo – viagem documentada a dois grandes problemas nacionais

A agência Lusa chamou-lhe “erro” de identificação inaceitável. Outras vozes assinalaram e continuam a assinalar a factualidade do “erro”: “Mas é preta ou não é preta? Se é, onde está o problema?”. Como se não bastasse, não falta quem do alto da sua ignobilidade, reduza um tratamento criminoso a uma descrição inócua, atacando “o cinismo desesperante da chamada linguagem inclusiva”. No rescaldo da agressão disfarçada de notícia, contra a deputada Romualda Fernandes, muitas perguntas ficam por responder. Pedro Filipe, co-host do Lado Negro da Força, partilha as suas, e deixa aqui um excelente ponto de partida para a emissão desta noite. Para ver a partir das 21h no Facebook e no YouTube.

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por Pedro Filipe

Chama-se Hugo P. Godinho (imagem 1).  É um jornalista bastante conhecido no meio dos jornalistas. É jornalista da maior agência noticiosa nacional, a Agência Lusa (imagem 2).

Depois de anos a fazer a cobertura noticiosa do PCP, está agora encarregue de cobrir tudo o que diga respeito ao Chega (imagem 3). Não se limita a cobrir, diria que faz uma espécie de cobertura exaustiva e nunca crítica de tudo o que o Partido quer tornar público. É uma foto reportagem de âmbito nacional de tudo o que o partido faz, como aliás já tinha sido alertado por um ex-assessor socialista na Assembleia da República (imagem 4).

Sendo jornalista da única agência de comunicação nacional, o que escreve não se circunscreve apenas a um órgão, mas é difundido praticamente por todos os outros – mais à frente já falamos dos perigos do jornalismo de copy-paste.

A partir da Lusa espalha propaganda disfarçada de informação (imagens 5, 6 e 7). Ontem [dia 13 de Maio] teve azar e cometeu um deslize freudiano. Numa notícia sobre deputados, sem qualquer motivo que o justificasse à frente do nome da deputada socialista Romualda Fernandes escreveu entre parêntesis “Preta” (imagem 8 ). Talvez para se lembrar. Talvez porque lhe dê prazer ofender assim a deputada, talvez porque é assim que é conhecida na redação e era só uma piada. Certo é que o escreveu. Gratuitamente. E o texto que escreveu foi revisto. E passou.

Ninguém achou estranho aquele acrescento ao texto. A ideia de “erro de escrita” fica naturalmente afastada. O nome surge a meio de uma lista de nomes do PS. Aquilo está ali intencionalmente. É inequívoco. Quem reviu o texto nada viu de estranho e este foi enviado para as redações, que na ânsia e urgência premente dos nossos dias de “noticiar primeiro”, não o revira, no máximo mudaram a ordem de um ou dois parágrafos e replicaram-no, tal como estava (imagens 9 e 10).

E assim chegamos a isto, que já levou o PS a emitir uma nota de repúdio, a Lusa a emitir um pedido de desculpas, à demissão – já aceite – do editor de política da agência, José Pedro Santos [presumo que fosse o responsável por rever a notícia], e a um processo de averiguações que já foi instaurado sobre o jornalista e que muito dificilmente não concluirá o óbvio.

Mas as perguntas que ponho são estas: Tivemos “sorte” porque ele se enganou, mas se não o tivesse feito por quanto mais tempo lhe seria permitido fazer este trabalho na principal agência noticiosa nacional? Quantos mais o fazem diariamente? Quantos colegas, chefes de redação e editores foram verdadeiramente surpreendidos com isto, que até já tinha sido alertado? Em nome de quê ou de quem se fecha os olhos a um sujeito destes? Onde está o sindicato dos jornalistas e a comissão da carteira? Quem regula e valida aqueles que têm na mão o 4.º poder, o poder de nos fazer chegar a informação e de nos posicionar face a esta? E por último, eu só por escrever este post já fiz mais investigação e jornalismo que muito boa gente sentada há anos numa redação sem tirar o cu da secretária, não fiz?

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