Mobilização por Bruno Candé sai à rua, com um manifesto anti-racista

Mais de uma dezena de associações e colectivos anti-racistas saem à rua, na sexta-feira, 31, e no sábado, 1 de Agosto, para prestar homenagem a Bruno Candé, e exigir Justiça por ele “e por todos e todas que foram assassinados/as e violentados/as pelo racismo estrutural”. A acção está a ser organizada em articulação com a família do actor, executado a tiro no último fim-de-semana.

Sob o mote “O Racismo matou de novo: Justiça por Bruno Candé”, as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Beja e Aveiro unem vozes para velarem juntas a perda de mais uma vida negra, criminosa e violentamente eliminada.

A mobilização nacional foi convocada por mais de uma dezena de associações anti-racistas, onde se incluem colectivos do movimento negro, como o INMUNE, a Plataforma Gueto, a Afrolis e a FEMAFRO

Unidos para exigir Justiça por Candé, “e por todos e todas que foram assassinados/as e violentados/as pelo racismo estrutural”, os activistas saem à rua esta sexta-feira, dia 31, e no sábado, 1 de Agosto.

Em Lisboa, onde Candé nasceu e viveu até ser assassinado, no último sábado, 25, a homenagem está marcada para amanhã, no Largo de São Domingos, a partir das 18h.

 

 “Juntamos as nossas forças neste momento de dor e luto que atravessamos”, comunica a organização, explicando que a mobilização está a ser preparada em articulação com a família do actor, e é “resultado de um compromisso que procura um activismo mais próximo de quem sofre diariamente o racismo na pele”.

Além dos apelos à Justiça por Bruno Candé, a união de activistas exige que os seus três filhos, de sete, cinco e três anos, “tenham do Estado todo o apoio, para que possam reconstruir as suas vidas”, sem outra privação que não seja a do próprio pai.

As reivindicações, divulgadas no Facebook, fazem parte de um manifesto anti-racista, que realça a motivação racial do assassinato de Candé.

Mesmo perante a lei da bala, o movimento negro não se cala

“Bruno foi morto por ser negro, foi morto por viver num país racista, num país que tolera, relativiza e normaliza práticas racistas, quer interpessoais, quer estatais”, lê-se na mensagem, que recorda os casos do homicídio do estudante cabo-verdiano Luís Giovani, e da violência policial sofrida por Cláudia Simões.

“Estas mortes e agressões são consequência da cumplicidade das políticas de Estado, nos seus discursos coniventes, nas suas práticas de reiteração e na sua recusa de criar leis de combate efectivo ao racismo”, defendem os colectivos, evocando também a memória de Alcindo Monteiro, assassinado há 25 anos às mãos de neonazis.

“Por cada vida que o racismo violenta e ceifa, ele autodenuncia-se, gerando um forte movimento que cresce todos os dias, juntando muitas outras vidas contra o racismo”, prossegue o manifesto, alertando para a iminência de novas vítimas do ódio racial.

 

 

“Enquanto expressões como “preto/a vai para a tua terra” e “é preto/a, mas…” forem discurso corrente, sem freio, nas trocas coloquiais, das ruas às caixas de comentários e ao parlamento, o racismo matará. Enquanto o Estado fingir que Portugal é um país étnica e culturalmente homogéneo, que não vê cores e onde não há discriminação em função da pertença étnico-racial, o racismo matará. Enquanto políticas de segregação étnico-raciais persistirem como realidades inamovíveis e irremovíveis das práticas de instituições de Estado, o racismo matará.  Enquanto não se descolonizar as narrativas, os imaginários e as políticas públicas de Estado com políticas de igualdade, a violência colonial, o racismo, matará”.

Enquanto tudo isso, e tanto mais, os reptos anti-racistas prometem continuar a ouvir-se bem alto, e nas ruas. “Somos cada vez mais os/as que decidem não fechar os olhos, e fazer o caminho que é preciso fazer para uma sociedade justa”. Mesmo que isso implique enfrentar a lei da bala. Em Lisboa, amanhã, no Porto um dia depois, seja onde e quando for, o movimento negro não se cala.