Mulher, negra, imigrante, LGBTQI e pobre–as histórias de Neusa Pedro

Nascida em Moçambique há 21 anos, Neusa Pedro vive em Portugal desde os 9 anos, sempre no Alentejo. Desde o ano passado activamente ligada à luta anti-racista e anti-facista, integra o Colectivo Levantados do Chão, e preside ao Núcleo de Estudantes Africanos de Beja, o concelho de residência e dos estudos superiores em Turismo. Amanhã é dia de conhecê-la melhor n’ O Lado Negro da Força, mas, até lá, ficamos com o seu ‘cartão-de-visita’. Escrito na primeira pessoa.

por Neusa Pedro

O meu nome é Neusa Angélica Manuel da Conceição Pedro (note-se o apagamento histórico e colonial do meu nome de família). Sou filha de imigrantes.

Nasci na Machava Sede, Matola, Maputo, Moçambique, no dia 14 de Setembro de 1999. Vivi parte da minha infância no Bairro Tsalala e frequentei a Escola Primária Completa Kilómetro-15. Vim para Portugal com 9 anos (agosto, 2009) e sempre residi no Alentejo, no distrito de Beja entre os concelhos de Beja e Serpa.

Actualmente, encontro-me no 3.º e último ano da licenciatura em Turismo no Instituto Politécnico de Beja. Faço parte do Núcleo de Estudantes Africanos de Beja e do Colectivo Levantados do Chão – [estou] em ambos desde 2020.

O meu percurso na luta é curto e muito recente e começa desde que me percebi enquanto sujeito político racializado em Portugal, quando aos 16/ 17 anos me vi a trabalhar como empregada de limpezas num banco para conseguir pagar explicações de Matemática. E quando, com 18 anos, me vi no Algarve a trabalhar como empregada de andares (Housekeeping) de hotéis, em empresas de trabalho temporário que perpetuam práticas esclavagistas durante o Verão.

Comecei a politizar o meu percurso de vida com a “explosão” do caso do Bairro da Jamaica, que me levou a conhecer o trabalho da SOS Racismo, do Mamadou Ba e, posteriormente, de Beatriz Dias e Joacine Katar Moreira, aquando da campanha para as legislativas.

Na sequência, conheci muito pessoal politizado, com consciência racial e solidário, com quem me juntei num colectivo de rua anti-fascista e anti-racista em Beja (Levantados do Chão), com o objectivo de dar resposta às situações de discriminação e intolerância para com a comunidade roma cigana, imigrante e comunidade estudantil africana e de afrodescendentes de Beja.

Em conjunto, saímos em mobilização por George Floyd, Bruno Candé, pela Liberdade em Évora e Beja e na última manifestação em Serpa.

Por termos surgido em contexto de pandemia, a nossa organização está um pouco limitada, mas procuramos sempre entender a dinâmica da luta e resistência anti-fascista e anti-racista no distrito, enquanto articulamos com outras pessoas e colectivos que compõem a luta a nível nacional e internacional.

De momento sou presidente do NEAB (Núcleo de Estudantes Africanos de Beja), que ainda se encontra em processo de formalização (atrasado por questões da Covid-19), que surge também com o objectivo de empoderar a comunidade estudantil africana e afrodescendente que tem tido um crescimento significativo nos últimos anos no distrito e, ao mesmo tempo, casos intoleráveis de racismo.

Tenho várias histórias pessoais, outras mais e menos alegres que traduzem o que é ser uma criança, jovem, mulher, negra, imigrante, LGBTQI e pobre (não tenho nacionalidade), no trabalho, na escola e em espaços de socialização em Portugal, que terei todo o gosto em partilhar convosco no próximo dia 25 de Fevereiro.

 

Amanhã é o dia! Acompanhe as histórias de Neusa Pedro, a partir das 21h30, n’ O Lado Negro da Força, no Facebook e no YouTube.