Na roda do Batuko, celebramos

a resistência à opressão colonial

Condenado à extinção pelo regime colonial, o Batuko, apontado como a expressão musical mais antiga de Cabo Verde, não só resistiu ao extermínio, como se tornou uma força mundial, a partir do último disco de Madonna. Fomos conhecer um pouco mais da sua história numa visita à exposição “Batukadeiras”, patente até ao próximo sábado, 29, no Centro Cultural Cabo Verde, em Lisboa. Com entrada gratuita.

por Afrolink

O tema “Batuka”, de Madonna, lançado há pouco mais de um ano, globalizou olhares para aquela que muitos vêem “como a mais interessante manifestação de Cabo Verde”, e, provavelmente também a mais antiga e original. Falamos do Batuko, protagonista da exposição “Batukadeiras”, patente até ao próximo sábado, 29, no Centro Cultural Cabo Verde, em Lisboa.

A mostra, da Associação de Mulheres Cabo-Verdianas na Diáspora em Portugal (AMCDP) e do centro de difusão cultural Chão de Oliva, guia-nos numa viagem pela génese deste património imaterial de Cabo Verde.

“Herança trazida pelos africanos escravizados, o Batuko incorpora música, dança e literatura de tradição oral”, introduz-se numa das mensagens exibidas na exposição, em que se destaca a importância sociocultural desta tradição.

“Para a mulher de Cabo Verde, a prática do Batuko tem um significado de sociabilização, em que avós, mães, filhas e netas partilham as experiências. A aprendizagem é realizada convivendo quase diariamente com esta manifestação e pela observação de outras mulheres”.

O ritual, cumprido com um traje típico – composto por “camisa de quarto de cor branca, blusa mandrião, saia prata com pequenas pregas, lenço branco e o imprescindível pano di terra” –, resistiu à ‘condenação à morte’ assinada pela violência colonialista.

Proibido como prática que se opunha à “civilização”

“No intuito de exterminar a identidade cultural africana no país, a administração colonial com o apoio da Igreja, perseguiu e proibiu o Batuko, levando a uma quase extinção desta tradição”, informa-se na exposição, onde podemos conhecer o decreto que, a 7 de Março de 1866, impôs a extinção da prática.

Segundo o documento, o Batuko opunha-se “à civilização”, e era “altamente incómodo, ofensivo da boa moral, perturbador da ordem e tranquilidade pública”.

Como tal, prossegue o texto, afigurava-se “de toda a conveniência social reprimir de uma vez para sempre” a tradição, praticada “na maior parte por escravos, libertos e semelhantes”, enquanto “divertimento do povo menos civilizado”.

 

Como tal, prossegue o texto, afigurava-se “de toda a conveniência social reprimir de uma vez para sempre” a tradição, praticada “na maior parte por escravos, libertos e semelhantes”, enquanto “divertimento do povo menos civilizado”.

Mais de 150 anos depois da ordem para matar o Batuko, a prática demonstra a sua resistência.

Apresentado num espaço em semicírculo, denominado terreru, onde as mulheres não só compartilham experiências, como fazem do Batuko “um meio de unir forças para enfrentarem problemas, recriarem e aperfeiçoaram cada vez mais diferentes formas de expressão”.  Herdeiras de um legado de rebelião.