No Castelo da professora Ariana Furtado há uma mala anti-discriminação

Professora do 1.º Ciclo e coordenadora da Escola Básica do Castelo, em Lisboa, Ariana Furtado, de 44 anos, é também uma voz activa no combate aos preconceitos, assinando a co-autoria do projecto “Com a mala na mão contra a discriminação”, numa equipa onde também se destaca o contributo da DJASS – Associação de Afrodescendentes. O seu percurso não se esgota, contudo, na Educação nem no activismo, estendendo-se também ao Teatro e ao mundo literário. Uma história para ouvir amanhã, na primeira pessoa, em mais uma emissão d’ O Lado Negro da Força, o talk-show online das noites de quinta-feira.

por Afrolink

A palavra anda de boca em boca, faz correr muita tinta, mobiliza debates e dissertações, mas, a avaliar pelo travão ao diálogo que continua a impor, permanece incompreendida. Afinal, o que significa racismo?

Se os adultos continuam incapazes de se entender sobre o assunto, por que não confiar às crianças esse entendimento?

Mais de duas dezenas de alunos da Escola Básica do Castelo, em Lisboa, deram o exemplo. No âmbito do projecto “Com a mala na mão contra a discriminação”, 22 crianças do 4.º ano de escolaridade responderam, entre outras, à questão “O que é racismo?”.

Sem rodeios, concluíram: “É uma forma de ofender, magoar, humilhar, rebaixar, exercer poder, prejudicar outras pessoas pela cor da pele”.

As respostas surgiram ao longo de seis encontros, que juntaram uma equipa de vários  docentes e educadores, incluindo a professora do 1.º Ciclo Ariana Furtado.

A também a coordenadora desse estabelecimento de ensino é, mais do que participante, co-autora do “Com a mala na mão contra a discriminação”, distinguido com o Prémio Municipal dos Direitos Humanos da Cidade de Lisboa 2018-2019.

Educação, Activismo, Teatro e Letras

Licenciada pela Escola Superior de Educação de Setúbal e pela Universidade Rennes II, em França, Ariana nasceu em Cabo Verde há 44 anos, mas está desde os primeiros dias de vida em Portugal.

A consciência cívica, presente na prática pedagógica, manifesta-se também na ligação à DJASS – Associação de Afrodescendentes, e ganha expressão artística nas artes cénicas, com a presença no Grupo de Teatro das Três Peças de Woody Allen.

Ainda no plano cultural, o percurso de Ariana cruza-se com a literatura: a sua assinatura encontra-se nas traduções para português dos livros infantis o “Senhor da Dança” e o “Grão de Milho Mágico”, editados pela Falas Afrikanas.

Nem todos os créditos, porém, parecem suficientes diante de olhos que condenam, nota, habituada à sucessivos ‘testes de esforço’. “Rapidamente percebi que a cor da minha pele não era indiferente. Sou professora do primeiro ciclo e sei o que é ouvir alguns encarregados de educação comentarem, em surdina, “não pode ser boa professora porque é negra”; “tinha que me sair a preta na rifa”; “fala muito bem para uma pessoa africana”. Sei o que é preciso fazer para “dar tempo” para perceberem que sou tão boa profissional como qualquer outro professor”, assinalou Ariana, num testemunho prestado ao projecto Memoirs – Filhos do Império e Pós-Memórias Europeias.

Ao mesmo projecto, a coordenadora da Escola Básica do Castelo conta que, ao longo da sua história, foi ouvindo esses e outros comentários calada. “Acho que nós, os afrodescendentes, temos tendência a fazer isso. Calamo-nos. Calamo-nos até que aconteça algo que nos faça sentir tão humilhados que nos obriga a reagir”.

Amanhã, a partir das 21h30, é hora de a ouvir. No nosso lugar de fala de todas as quintas-feiras.

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