O impulso fotográfico que investiga como descolonizar heranças visuais

Até ao próximo dia 30 de Setembro, o projecto de investigação “O Impulso Fotográfico: Medindo as Colónias e os Corpos Colonizados” abre-se a propostas de capítulos e ensaios visuais, para dar vida a um e-book. O livro, a publicar no final do ano, insere-se na missão de “procurar entender como as imagens eram utilizadas” no ‘álbum’ do arquivo colonial, e “investigar como podemos descolonizar esse legado visual”.

por Afrolink

Fotos de  PHOTO IMPULSE, por Soraya Vasconcelos

Que relações de poder uma fotografia é capaz de revelar? O que um arquivo fotográfico ou fílmico nos diz sobre a nossa História? Como olhamos hoje para as imagens recolhidas em contexto e para pretexto colonial?

Essas e outras questões acompanham-nos no encontro com o projecto de investigação “O Impulso Fotográfico: Medindo as Colónias e os Corpos Colonizados. O Arquivo Fotográfico e Fílmico das Missões Portuguesas de Geografia e Antropologia”.

Financiado pela FCT-Portugal, sob proposta da NOVA FCSH, o projecto está a ser desenvolvido pelo Centro de Investigação: ICNOVA – Instituto de Comunicação da Nova, com o propósito de “contribuir para a história e a teoria portuguesas da fotografia e do filme científicos, trazendo para este campo as imagens produzidas em diversas expedições geográficas e antropológicas realizadas às então colónias portuguesas em Africa e na Ásia, entre 1883 e 1975”.

A missão, já concretizada em várias comunicações, e até num curso de ensino à distância sobre Fotografia e Política, inclui a publicação de um livro electrónico, neste momento aberto a propostas.

A denominada “chamada para Capítulos e Ensaios Visuais: Ebook Imagens e Arquivos – Fotografias e Filmes” decorre até ao próximo dia 30 de Setembro, sob critérios de admissão disponíveis online.

Fotografia e o filme vistos enquanto formas de apropriação simbólica

Segundo os responsáveis, o livro “propõe-se aprofundar as relações entre a investigação histórica, artística, antropológica e cultural e as imagens fotográficas e fílmicas preservadas em arquivos, públicos ou privados”.

Entre os temas que os organizadores pretendem convocar encontram-se “o estatuto documental destas imagens, os seus contextos e formas de recontextualização, de exposição e exibição actuais, as múltiplas histórias com que se relacionam e as relações de poder que as produziram e que elas tendem a reproduzir”.

Tudo isto enquadrado no foco de intervenção do “Impulso fotográfico”.

“O ponto de partida do projecto é a ideia de que a fotografia e o filme são formas de apropriação simbólica, uma apropriação que se tornou efectiva tanto no terreno como nos espíritos. São, também, formas de produção do espaço (Henri Lefebvre) e de o habitar (Heidegger)”, lê-se na apresentação online.

O cartão-de-visita do projecto, que junta 15 investigadores residentes, nota igualmente que “a fotografia e o filme fixam relações de poder no exacto momento de tirar a fotografia ou de fazer o filme”, e, consciente ou inconscientemente, “certas relações tendem a ser replicadas ao longo dos muitos usos das imagens”.

A partir deste ângulo, o “Impulso fotográfico” aponta o foco: “Diante do nosso arquivo colonial, além de procurar entender como as imagens eram utilizadas, pretendemos investigar como podemos descolonizar esse legado visual”.