O Lord que gravou um “grito de revolta para a sua afirmação”, com “Negritude”

Ermelindo Quaresma, aka Lord Strike, foi o primeiro produtor de rap da Cova da Moura, bairro onde co-fundou o Kova M festival. Activista e empreendedor, criou em 2020 o projecto Lembá Design, que, através de t-shirts, se propõe a “partilhar a história e o percurso de vida de personalidades Africanas e Afro-Americanas, que se destacaram na luta de libertação dos seus povos”, sendo algumas delas “pouco conhecidas do grande público”. É também coordenador e animador sociocultural da Associação de Artistas Urbanos e Transformação Social, e já percorreu vários países da Europa, EUA, e América do Sul, num mapa de vida iniciado em São Tomé e Príncipe há 50 anos. Uma rota onde se destaca ainda uma temporada no Japão, e a gravação do álbum “Negritude”, aventuras que se cruzam esta noite, a partir das 21h, n’ O Lado Negro da Força.

por Afrolink

Nascido em São Tomé e Príncipe em 1972, Ermelindo Quaresma viveu dos 9 aos 19 anos em Angola, onde teve o primeiro contacto com a cultura Hip hop, tanto através do breakdance que praticava, como dos murais que pintava.

Em 1991 decidiu vir para Portugal, e cerca de três anos depois, tornou-se DJ e Produtor dos “Menace to Society”, o primeiro grupo de rap da Cova da Moura.

A experiência musical amadureceu em vários intercâmbios de Hip Hop na Europa, EUA, e América do Sul, e, em 2012, Ermelindo, aka Lord Strike, gravou o seu primeiro álbum a solo, intitulado “Negritude”.

“É um grito de revolta para a sua afirmação e luta incessante no combate à exclusão social, e em prol da igualdade de oportunidade e valorização cultural”, descrevem as notas biográficas do rapper, que, com esse trabalho “reflecte o seu percurso de vida em África e na Europa; em bairros periféricos e no centro da cidade”.

Nessa trajectória, importa igualmente destacar que foi um dos fundadores do Kova M festival, evento que coordenou durante sete anos.

A veia artística de Ermelindo também passou pelo Japão, onde viveu seis meses durante o ano de 2016. Estabelecido na cidade de Osaka, foi convidado a dar aulas sobre cultura africana lusófona na Universidade local, e ensinou Hip Hop no Colégio Internacional Coreano.

Ainda no Japão, trabalhou voluntariamente como chefe de cozinha na Minoh Association for Global Awareness (MAFGA), dando a conhecer pratos africanos e portugueses; e iniciou-se na arte floral tradicional Ikebana. Pelo caminho desempenhou igualmente funções de assistente de produção de uma exposição de fotografia sobre a Guiné-Bissau, apresentada na Universidade de Osaka, da qual resultou o livro “Vozes de Cantanhez” (Roque de Pinho e Torii 2016), que inclui a sua assinatura como designer gráfico.

Moda com História

Esta é a sua formação profissional, a que junta outra de formador, e a frequência, na Universidade Autónoma de Lisboa de uma pós-graduação em Ciências Documentais, nas cadeiras de Indexação e catalogação de documentos.

O conhecimento em web design inspirou-o a criar o projecto Lembá Design, que pretende, “através de t-shirts estampadas e vendidas online, partilhar a história e o percurso de vida de personalidades Africanas e Afro-Americanas, que se destacaram na luta de libertação dos seus povos”, sendo algumas delas “pouco conhecidas do grande público”.

Esta é uma iniciativa nascida em 2020, que assume a “intenção de fomentar a educação informal, tendo por objectivo tornar a moda um veículo de ensinamentos históricos e sociais”. O propósito concretiza-se igualmente através da página de Facebook “Afronegritude”, “onde se pode aprender e ter conhecimento sobre diversos feitos realizados por homens e mulheres negras”.

Seja no design, seja na música, a consciência social sobressai no percurso deste Lord, que foi um dos responsáveis pela manifestação realizada em 2015 em frente à Assembleia da República contra o abuso policial ocorrido a 5 de Fevereiro desse ano na Cova da Moura, e que visou cinco jovens, incluindo alguns dirigentes da Associação Cultural Moinho da Juventude.

Acualmente Ermelindo é coordenador e animador sociocultural da Associação de Artistas Urbanos e Transformação Social (AAUTS), entidade dedicada à inclusão social, formação informal e valorização artística através da arte urbana e da cultura Hip Hop de jovens migrantes.

A apresentação continua, na primeira pessoa, a partir das 21h, n’ O Lado Negro da Força.

Juntem-se à conversa, em directo, no Facebook e no YouTube.