Os 5 R’s para combater o racismo: do reconhecimento à resistência
por Afrolink
Facto: “Ninguém quer falar de racismo num sábado à noite”. Mas foi isso mesmo que aconteceu ontem no “Programa Cautelar”, até porque, conforme sublinhou a apresentadora Filomena Cautela, “Ninguém quer falar de racismo num sábado à noite, nem nunca”.
A falta de vontade – individual e colectiva – de discutir o racismo esteve bem representada pelas declarações dos líderes do PCP e do PSD, unidos na negação do racismo.
Se para Jerónimo de Sousa, do PCP, ″o povo português na sua esmagadora maioria não é racista″, Rui Rio, do PSD, consegue ir mais longe, afirmando: “Não há racismo na sociedade portuguesa”.
Unidos no desconhecimento, à semelhança daqueles que ainda fazem a apologia romântica dos “Descobrimentos”, os líderes comunista e social-democrata são dois exemplos perfeitos de cidadãos a quem se aplica o conselho deixado por Filomena Cautela: “Falar menos e ouvir um bocadinho mais”.
Precisamente o que o “Programa Cautelar” procurou fazer, desde logo ao reconhecer – a partir da reflexão proposta pela escritora Gisela Casimiro – que a sua própria equipa – 100% branca – é expressão do sistema estruturalmente racista em que vivemos – e não de um sistema fundado em meritocracia.
Mais do que fazer o mea culpa, é importante fazer a diferença com acção, admitiu também a apresentadora, numa emissão que juntou vários testemunhos de pessoas racializadas, e até o ruído dos “bonecos” que nos tentam silenciar. Inclusivamente perante a consistência de estudos que apontam múltiplas evidências do racismo em Portugal.
Sem poupar na factura da responsabilidade colectiva, o “Programa Cautelar” lembrou que a versão histórica dos ‘portugueses conquistadores’ já esteve mesmo na Eurovisão, acrescentando que chegou o momento de entoarmos um novo refrão.
Afinal: “Há um outro lado, como em tudo na vida, e na escravatura a cena é refundida. Só nos falam da luso-ternura, foi mais morte, gamanço e tortura. Foram brancos negreiros, barcos tão cheios, foram oceanos de horror”.