Política e masculinidades guineenses no Lux, a partir da obra de Joacine K.Moreira

O livro “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau”, de Joacine Katar Moreira, é lançado amanhã, 24, no LuxFrágil, em Lisboa. Com entrada livre, sujeita à lotação do espaço, a apresentação da obra começa às 18h30 e reserva um momento musical com o mestre griot do Kora, o guineense Braima Galissá.

por Afrolink

Golpes de Estado, fraudes eleitorais, ameaças de morte, perseguições e até mesmo assassinatos de políticos…as notícias de violência e instabilidade política e governativa na Guiné-Bissau repetem-se e, com elas, multiplicam-se as análises sobre o tema.

Mas, entre entendimentos de politólogos, historiadores, sociólogos e tantos outros especialistas e fazedores de opinião, alguma vez nos ocorreu investigar de que forma as relações de género originam todas essas convulsões?

Joacine Katar Moreira trouxe a reflexão para a academia, com a tese “A Cultura di Matchundadi na Guiné-Bissau: Género, Violências e Instabilidade Política”, elaborada para obtenção do grau de Doutora em Estudos Africanos.

O trabalho, desenvolvido na Escola de Sociologia e Políticas Públicas do ISCTE –Instituto Universitário de Lisboa, ganha agora espaço no meio editorial, com a publicação do livro “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau”.

Conversa e música

A obra vai ser lançada amanhã, 24, no LuxFrágil, em Lisboa, com a presença da autora, de Pedro Vasconcelos, professor doutor que orientou aquele tese de doutoramento, e de Daniel Nunes, titular de uma das mais importantes colecções de livros sobre África existentes em Portugal.

A este triângulo de conversa, com início marcado para as 18h30, vai juntar-se a música do professor e mestre griot do Kora, o guineense Braima Galissá.

O programa, de entrada livre, porém reservado à lotação disponível, convida a “’estar em’ política, com toda a complexidade das relações e das escalas que a produzem, e que muitas vezes são colocadas fora de uma política ‘a sério’”.

A proposta ancora-se nas páginas de “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau”, que colocam “em fricção o conceito de “matchundadi” e a política e o Estado guineenses”.

“Passando pelas representações tradicionais da masculinidade (“matchu-étnico”), da sociedade colonial (“matchu-urbano”) e da luta de libertação nacional (“matchu-combatente”), a autora propõe uma órbita singular para pensar as dimensões da guerra, da colonialidade, da festa e do protesto na Guiné-Bissau”, lê-se na mensagem de divulgação do lançamento.

Nas palavras de Joacine Katar Moreira, “a cultura di matchundadi, hipermasculina, move-se dentro das estruturas do Estado, procurando fazer da matchundadi endémica uma matchundadi sistémica. Ou seja, procura institucionalizar um modus operandi e uma visão do mundo na qual impera a lei do mais forte, do mais poderoso e sobretudo do mais violento, ao mesmo tempo que esta hipermasculinidade traduz as características associadas aos homens e às masculinidades, tais como a redistribuição dos recursos, a protecção (e enriquecimento) do seu clã e a ameaça permanente aos adversários políticos”.

Segundo a também deputada, “a cultura di matchundadi tem sido o motor da vida política guineense e sem a exacerbação e a institucionalização desta forma de masculinidade hegemónica, o sumo que tem regado a política guineense desapareceria. Entre tramas, traições, mortes, destituições, eleições, nomeações, transições políticas e golpes de Estado”.

O resultado está agora à mão de folhear.