Por trás desta capa estão milhões de vidas – sigo com todas, por todas

O convite chegou por e-mail, em Dezembro do ano passado, com um assunto a fazer lembrar uma boa nova divulgada meses antes, que me colocava na lista das 100 melhores empreendedoras sociais da Euclid Network, rede apoiada pela Comissão Europeia. Assumi, imediatamente, que seria um contacto para um artigo ao estilo “balanço de 2022”, quando a referência a 2023 no corpo da mensagem me redireccionou a leitura, depois encaminhada para uma entrevista, e agora traduzida nesta capa. Cabem nela milhões de vidas. Sigo com todas. Por todas!

Texto de Paula Cardoso

Fotos de Sara Matos

O primeiro mês do ano terminou a entorpecer-me de medos. No dia 27 de Janeiro, a um par de horas da moderação de um evento, recebi uma notícia que me sobressaltou até às lágrimas. Sabia que, naquele momento, não poderia fazer muito mais para além do tanto que já representava gerir o meu turbilhão emocional. Mas, na prática, tinha poucos minutos para decidir o que faria nas horas seguintes.

Pensei no que seria pior: ir, tendo a certeza de que, no estado em que estava, teria uma prestação pouco conseguida, ou cancelar e dar uma dor de cabeça de última hora à organização?

Acabei por sentir a decisão – mais do que reflectir – e, em vez de pensar na má imagem que arriscaria dar, procurei focar-me em quantas pessoas seriam afectadas pela minha decisão numa e noutra hipótese.

O exercício de ‘controlo de danos’ fez-me optar pela ida. Fi-lo por considerar que, naquele enquadramento, conseguiria evitar que o desalinho do meu “eu” se arrastasse para um eventual desequilíbrio no “nós”.

Regresso a esse episódio enquanto folheio o último número da “Success Pitchers”, revista de negócios americana que apresenta o que descreve como histórias de empreendedores visionários. Penso no que significa sucesso para quem algures do outro lado do Atlântico escolheu destacar a minha trajectória, mas reflicto sobretudo no significado que a palavra tem para mim.

O sucesso é…

Como se avalia o sucesso na área em que me movimento?

Tenho a certeza que não é pela capa de uma revista, tal como sei que ter estado naquele evento no final de Janeiro – por menos bem-sucedido que possa ter sido – cabe nas minhas métricas de sucesso. Porque há momentos em que o empenho vale muito mais do que o desempenho.

Vejo esta capa como um híbrido de ambos, que parte de uma das medidas de impacto que mais valorizo: o reconhecimento do trabalho que desenvolvo.

Hoje celebro-o de forma pública, partilhando a felicidade de ser distinguida, pela “Success Pitchers”, como uma das “10 Mulheres Líderes Mais Inspiradoras do Empreendedorismo Social”

Enquanto o faço, pondero sobre o que me move: a criação e facilitação de acessos. A conhecimento, a espaços, a pessoas, e à afirmação positiva da identidade negra, historicamente invisibilizada e silenciada.

Partilhar a minha história é uma parte minúscula desse processo, porque o meu compromisso e a minha prática não começam nem acabam comigo. Neles cabem milhões de vidas, algumas delas mencionadas neste artigo que escrevi há um ano, tantas outras encontradas entre leituras, vídeos, conferências e vivências. Sigo com todas. Por todas!

 Leia aqui a edição online do último número da revista Success Pitchers