“Porque deixei de falar com brancos sobre raça” – do livro à conversa

O livro “Why I am no longer talking to white people about race”, recém-lançado em Portugal com o título “Porque Deixei de Falar com Brancos sobre Raça”, dá o mote para uma conversa, na próxima quinta-feira, 13, às 18h30, na livraria Tigre de Papel, em Lisboa. Da autoria da premiada jornalista e escritora britânica Reni Eddo-Lodge, a edição portuguesa da obra conta com prefácio de Mamadou Ba, que marcará presença no encontro na Tigre de Papel.

por Afrolink

Foi “escrito por uma mulher negra nascida e criada na Inglaterra”, mas o livro “Why I am no longer talking to white people about race” “podia perfeitamente ter sido escrito por uma portuguesa negra, nascida e criada aqui, porque identifica e retrata na perfeição o cordão umbilical que liga racismo estrutural, institucional e sociocultural à história colonial e suas continuidades históricas que continuam a marcar as relações sociais, culturais, políticas e económicas das nossas sociedades”. A leitura pertence a Mamadou Ba, e encontramo-la no prefácio da edição portuguesa da obra de Reni Eddo-Lodge.

Recém-lançada pela Edições 70, a publicação da premiada jornalista e escritora britânica serve de mote para uma conversa na próxima quinta-feira, 13, na livraria Tigre de Papel, em Lisboa.

O encontro, com início às 18h30, vai contar com a presença de Mamadou Ba, distinguido no ano passado com o “Prémio Anual de Defesa dos Direitos Humanos em Risco”.

Antes da conversa, partilhamos outra leitura da obra, que nos chegou antes do lançamento da edição portuguesa de “Why I am no longer talking to white people about race”.

A partir de Londres, onde vive há mais de uma década, a fotógrafa Alice Marcelino – cujo trabalho pode ser visto até 5 de Março, em Almada, na exposição “Kitoko – Histórias da Diáspora Negra –, explicava-nos, no final de 2020, a importância que a obra de Reni Eddo-Lodge assumiu na sua história.

Natural de Luanda, educada em Portugal, e com experiências migratórias que passaram pela França e pela Grécia, Alice foi observando, a cada variação geográfica, como a identidade negra se pode sobrepor a quaisquer outras pertenças, ao ponto de as inviabilizar.

Nesses olhares, a fotógrafa encontrou inspiração para o seu trabalho criativo – visível na série de retratos que partilhamos na galeria “Raízes de Celebração” –, e uma nova consciência de cor.

“Recomendo este livro não apenas aos nossos irmãos e irmãs negros. Ele também deve ser lido pelos nossos irmãos e irmãs brancos, para que possam compreender o poder e privilégio associados ao facto de serem brancos”.

Alice defende que essa consciência é fundamental para permitir e aprofundar o diálogo. “Falar sobre as nossas experiências como negros sempre foi muito difícil, especialmente quando somos uma minoria”, nota a fotógrafa, desfiando um rosário de resistências.

“Nessas situações, somos desautorizados e rotulados de pessoas que gostam de se fazer de vítimas, que procuram atenção, etc. Este livro é óptimo porque faz com que não nos sintamos sozinhos nas nossas experiências de rejeição”.

Ou, escrito de outro modo, as experiências partilhadas pela jornalista Reni Eddo-Lodge permitem perceber de forma clara que, quando falamos de racismo, “não estamos malucos, não estamos à procura de atenção, e não estamos a mentir”. Estamos conscientes!