Que lugar para o protagonismo negro nas salas de cinema portuguesas?

Foi nomeado para melhor filme na última edição dos Óscares, saiu da cerimónia com os galardões de “melhor actor secundário”, atribuído a Daniel Kaluuya, e ainda de melhor canção, assinada pela artista H.E.R., mas “Judas e o Messias Negro”, de Shaka King, permaneceu sem lugar nas salas de cinema em Portugal. O que este exemplo nos diz sobre os créditos reconhecidos ao protagonismo negro no mundo da sétima arte? No Lado Negro da Força abrimos o ecrã à reflexão, hoje com a presença do cineasta Guenny Pires.

por Afrolink

A corrida aos Óscares ainda estava na fase do aquecimento, mas a nomeação de “Judas e o Messias Negro” para melhor filme garantia à obra de Shaka King um lugar entre os principais na cerimónia de prémios de Hollywood.

O reconhecimento da qualidade do trabalho de King, expresso nessa indicação – e também na conquista dos galardões de “melhor actor secundário”, atribuído a Daniel Kaluuya, e ainda de melhor canção, assinada pela artista H.E.R. –, não foi, contudo, suficiente para fazer com que o filme chegasse às salas de cinema lusas.

“Em Portugal, a estreia nos cinemas está dependente da visibilidade na temporada de prémios, nomeadamente os Óscares”, adiantava, no início de Março, a plataforma online de entretenimento SAPO Mag.

Dois Óscares mais tarde, questionamo-nos sobre o significado de “visibilidade na temporada de prémios, nomeadamente os Óscares”.

Aparentemente, em Portugal, filmes protagonizados por actores negros, e/ou com argumentos de afirmação negra e de contestação de narrativas históricas cristalizadas precisavam de uma visibilidade maior do que aquela que garantem os aclamados prémios mais importantes da indústria do cinema.

Se “Judas e o Messias Negro” nos confronta com a necessidade de desconstrução de narrativas históricas colocadas ao serviço de sistemas estruturalmente racistas – como é o caso da acção do partido Black Panthers –, outros filmes, como “As Ondas”, de Trey Edward Shults, nos desafiam a conviver com um retrato de negritude incomum no grande ecrã: o das pessoas negras enquanto seres humanos multidimensionais, que vivenciam desafios para além do racial.

Apesar das diferenças entre “Judas e o Messias Negro”(produção 100% negra), e “As Ondas”, as duas longas partilham uma trajectória de visibilidade internacional sem expressão em Portugal, já que ambas ficaram de fora das salas de cinema.

O que estes exemplos nos dizem sobre os créditos reconhecidos ao protagonismo negro no mundo da sétima arte?

Abrimos o ecrã à reflexão, na emissão semanal d’ O Lado Negro da Força, hoje com a presença do cineasta Guenny Pires.

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