Quem conta a história constrói a memória…sobre a Rainha Njinga

O actor e produtor angolano Sílvio Nascimento lançou uma petição em que acusa a Netflix de roçar a “usurpação cultural para benefício próprio”, por, depois de ter manifestado que “não tem interesse nos conteúdos Africanos PALOP”, acolher um documentário sobre a Rainha Njinga Mbande. Apesar de a novidade Netflix ter a assinatura de uma afro-americana – Jada Pinkett Smith –, Sílvio considera que os angolanos devem ser “parte integrante do processo”, entendimento que está longe de ser consensual. Uma discussão para acompanhar mais logo n’ O Lado Negro da Força.

por Afrolink

Em 2013, a série “Njinga – Rainha de Angola”, produzida pela Semba Comunicação, foi rejeitada pela Netflix sob a alegação de que “para já” os conteúdos africanos PALOP estavam excluídos da carteira de interesses.

Oito anos depois, corre mundo a notícia de que a plataforma de streaming vai estrear um documentário sobre essa referência da História angolana, com a assinatura da afro-americana – Jada Pinkett Smith.

Se para alguns angolanos isso é motivo de orgulho, para o actor e produtor Sílvio Nascimento isso é “repugnante e roça a usurpação cultural para benefício próprio”, tendo em conta que o projecto “não está a ser filmado em Angola”, nem integra equipa técnica e actores angolanos.

“Chega de usarem a nossa identidade cultural para elevação de terceiros, enquanto nós perecemos sem produção de conteúdos por falta de aceitação internacional”, lê-se na petição que o criativo lançou na plataforma Change.Org.

O protesto soma mais de 13 mil assinaturas em cinco dias, mas está longe de ser consensual.

Afinal, que obrigação tem a Netflix com Angola e os angolanos?

Se o filme moçambicano “Resgate” estreou nessa plataforma de streaming, mais do que disputar o interesse da Netflix nos conteúdos Africanos PALOP, não deveríamos estar a discutir como tornar esses conteúdos massivamente interessantes, não apenas para a Netflix?

Mesmo sabendo que quem conta a história constrói a memória, em que medida contestar produções estrangeiras sobre a História africana nos ajuda a fixar a nossa narrativa?

Usurpação seria, por exemplo, retirar Njinga de Angola, atribuindo-lhe outra origem, ou distorcer a sua herança, ilações impossíveis de produzir antes da estreia do documentário, que aguardamos com ansiedade.

Até lá, não tenhamos dúvidas de que ficaríamos todos muito mais pobres se a “leitura” da História de cada país fosse vedada aos outros países.

O tema está em análise na segunda parte d’ O Lado Negro da Força.

Para ver a partir das 21h, no Facebook e no YouTube