Um livro para a História daqueles que “não têm história”

Que referências nos acompanham na nossa construção de negritude e africanidade? Quais os livros, filmes, séries, discografia ou palestras que nos ajudaram a desmontar a armadilha da história única? Publicamos, neste espaço, sugestões que espelham esse despertar identitário. O premiado livro “Abina and the important men – a graphic history”, de Trevor R. Getz e Liz Clarke, lê-se como um grito pela liberdade.

por Paula Cardoso

Desumanizadas durante séculos, e apagadas do que se convencionou designar de História universal, milhões de vidas negras permanecem arredadas dos anais que toda a humanidade deveria conhecer.  Abina Mansah era, para nós, mais uma delas, até nos cruzarmos com a obra “Abina and the important men – a graphic history”.

Escrito pelo historiador e professor Trevor R. Getz e ilustrado pela designer Liz Clarke, o livro apresenta-nos o exemplo de resistência de uma mulher que, no final do século XIX, contestou em tribunal a sua condição de pessoa escravizada.

A história, reconstituída com o suporte da banda-desenhada, foi recuperada do Arquivo Nacional do Gana, a partir de uma transcrição judicial de 1876.

Para além de nos transportar até à sala de tribunal onde Abina enfrentou um conjunto de homens em defesa da sua liberdade, a obra dá ao leitor o contexto histórico e social para se enquadrar a narrativa na época respectiva, e outras chaves valiosas para produzir a sua própria interpretação.

Escrita para não permanecer proscrita

Ao mesmo tempo, o livro dedica a sua última parte à inclusão da história em sala de aula, propondo algumas vias de abordagem.

“Durante 125 anos, o testemunho de Abina Mansah permaneceu escondido numa prateleira, e a sua voz silenciada. Mas uma voz como esta não poderia ficar silenciada para sempre”, lê-se na primeira parte do livro.

A obra, distinguida pela Associação Americana de História com o Prémio James Harvey Robinson, assume a missão de resgatar a história das pessoas que não têm história escrita. E por isso acabaram proscritas.

 

Pode encomendar o livro ou e-book aqui https://abina.org/