Um Machado de guerra que, em vez de enterrado, é promovido a “humanitário”

Nazi assumido, ligado a várias organizações de extrema-direita, e já condenado por múltiplos crimes, incluindo de discriminação racial, Mário Machado continua a gozar de privilégios próprios de um país estruturalmente racista. Como se não bastasse o amplo espaço mediático concedido à sua ideologia de ódio, o Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa promoveu-o a pessoa “humanitária”. Passando uma borracha sobre o seu longo e sangrento cadastro criminal – onde se inclui a participação nos ataques racistas que varreram o Bairro Alto a 10 de Junho de 1995, e custaram a vida a Alcindo Monteiro –, a Justiça autorizou o seu pedido para “ir prestar ajuda humanitária” na Ucrânia. A decisão implicou a suspensão temporária da medida de coação a que está sujeito – no âmbito de um processo-crime em que é arguido por indícios de posse ilegal de arma –, e evidenciou uma vez mais, a força dos brancos costumes. O tema vai estar em análise mais logo n’ O Lado Negro da Força. Até lá, actualizamos a informação: segundo notícias divulgadas esta tarde, a dita “viagem humanitária” já terminou, mas por vontade de Mário Machado e não por intervenção judicial. Aliás, por muito que o Ministério Público tenha recorrido da decisão, o que ressalta deste episódio é a legitimação de um nazi pela Justiça, conforme sublinhado pelo SOS Racismo, num comunicado que o Afrolink publica na íntegra.

Comunicado do SOS Racismo

O SOS Racismo lamenta e repudia que um tribunal português tenha deferido, por razões “humanitárias”, o pedido de Mário Machado para deixar de estar obrigado ao cumprimento de uma medida de coação, no âmbito de um processo-crime em que é arguido por indícios de posse ilegal de arma, discriminação racial, discurso e propagação de ódio na Interne​t. 

Mário Machado é um nazi assumido. Está literalmente tatuado no seu corpo e presente no seu discurso, no seu passado e no seu cadastro. Já cumpriu pena de prisão e já foi condenado pela prática de vários e múltiplos crimes, incluindo crimes discriminação racial. Já pertenceu e pertence a várias organizações de extrema-direita, responsáveis por incontáveis crimes. Foi um dos que participou no linchamento de negros no Bairro Alto, em Lisboa, na noite em que os seus cúmplices assassinaram Alcindo Monteiro. Está tudo devidamente documentado. Com ódio e sangue. São sobejamente conhecidas as suas ligações à extrema-direita europeia, inclusivamente, ao movimento neo-nazi na Ucrânia. 

Quando um juiz considera que, perante tudo isto, Mário Machado é um altruísta, um humanista que pode ser dispensado do cumprimento de deveres perante a justiça, para, conforme consta do requerimento do arguido, ir para a Ucrânia prestar ajuda humanitária e, se necessário, combater ao lado das tropas ucranianas, devemos estar muito preocupados. A justiça acaba de legitimar um nazi. E de legitimar o não cumprimento de medidas de coação, quando um arguido pretende “combater”. É uma visão demasiado simplista de um conflito, demasiado despropositada, que não podemos deixar passar em claro, nem sequer admitir. 

Mário Machado não é um humanista. Perguntem às suas vítimas, negros e imigrantes, o que é achariam desta caracterização. Mário Machado não se voluntariou para ajudar vítimas de guerra – nunca o fez para nenhum dos múltiplos conflitos mundiais, da Síria ao Iraque, da Palestina ao Afeganistão. E não o faz agora. Mário Machado voluntaria-se para se reunir com um grupo de nazis e para se desobrigar de responder à justiça. 

Cabe ao Ministério Público, aos tribunais superiores e ao Conselho Superior de Magistratura reverter esta vergonha. E a todos e cada um e cada uma de nós, impedir este revés sobre a justiça e sobre os direitos humanos. 

19 de março de 2022

SOS Racismo

A reflexão prossegue n’ O Lado Negro da Força.

Para ver a partir das 21h, em directo no Facebook e no YouTube.