Viagem ao “Atlântico” à boleia das letras da poeta brasileira Mai Zenun

O HANGAR – Centro de Investigação Artística acolhe hoje, 19, às 18h30, o lançamento do livro “Atlântico”, da poeta brasileira Mai Zenun, publicado pela Editora Urutau. Além da presença da autora, a apresentação vai incluir uma roda de leitura com as participações das artistas Carmem Gonçalves, Petra Preta e Vânia Puma. Apareçam!

por Afrolink

Com 88 páginas e uma colectânea de textos “nascidos da experiência de se tornar imigrante e mãe, ao mesmo tempo”, a obra “Atlântico” da poeta brasileira Mai Zenun é lançada esta tarde, às 18h30, no HANGAR – Centro de Investigação Artística, em Lisboa.

Além da presença da autora, a apresentação vai incluir uma roda de leitura com as participações das artistas Carmem Gonçalves, Petra Preta e Vânia Puma.

O momento antecipa um encontro com a poesia de Mai Zenun, que em “Atlântico”,  “denuncia discrepâncias socioeconómicas sustentadas pelas actuais estruturas e hierarquizações veladas”, lê-se na sinopse, que antecipa uma “uma leitura deliciosa, mas delicada, sobretudo porque Zenun nos leva a criar rotas de confluência e descompasso, ilhas de (re)encontro e desapego, em um outro tipo de luto, luta e celebração, num manto de limbo profundo que é esse mar, em todas as suas heranças ladino-amefricanas — pegando emprestado este conceito tão exacto de Lélia Gonzalez”.

Na descrição da obra, disponível na página da Editora Urutau, que publica o livro, assinala-se também que “este tipo de narrativa, que nos é entregue em forma de escrevivência, faz deste livro uma obra íntima e necessária”.

Nela, Maíra “se junta a toda uma escrita consolidada, que escancara o que se passa em sociedades como Brasil e Portugal, assentadas no sistema colonial”. A autora “escolhe poetizar os efeitos nos afetos, da vida que gira em torno de tudo o que respira”.

Antes de percorrermos as 88 páginas, partilhamos um pedaço desse “Atlântico”: “foi preciso um atlântico entre nós, foi preciso te encontrar do outro lado, e retornar ao passado… pra poder terminar de montar a rima, de engolir o mapa… os processos que nos separaram não nos venceram, não nos mataram! é que nós não sucumbimos… não! nós lutamos. bravas. èsù. òsàlá. rosa branca e caboclaria. nós lutamos e sobrevivemos, dia a dia… eparei iansan bangalô três vez. num mafuá de bons ventos. bons sentimentos… e tempestades. e kizumbas. águas dos rios. alagados. sahel e cordilheiras… inteiras. seguimos… aquilombando reticências. aquilombando… resistências. ancestralidade! nós somos e seguimos sendo, vontade. em nós. um mesmo corpo, em vários corpos… carnes de um mesmo significado. eita, pretume danado! crioulo danado. negada. samba de quarta-feira, consciência e dororidade sagrada…. terreiro de mãe dinha e revoada. num tipo de elo, atado! enterrado. dentro da gente. amefricanidades insurgentes. kimbundu e canela. yorùbá, tupinambá. yanomami. ava canoeiros e favelas. amefricanidades…”.

Além de “poeta brasileira em trânsito”, Maíra Zenun é socióloga multiartista. “Realizou o Master em Fotografia Artística no Instituto de Produção Cultural & Imagem (PT), é mestre pela Universidade de Brasília e doutora pela Universidade Federal de Goiás, com a tese A cidade e o cinema [Negro]: o caso FESPACO”, adianta a sua biografia. Ao seu cartão-de-visita junta-se também a co-criação da Nêga Filmes, “que desenvolve projetos em cinema, educação, fotografia, poesia e performance”.

Na sua intervenção interessa-se “por questões ligadas à representatividade negra, a metodologias e pedagogias contracoloniais, à migração forçada, a fronteiras inventadas e a poéticas antirracistas”.

Esta tarde teremos a oportunidade de saber mais.