
DOS SABERES DO ARROZ AFRICANO À LIBERTAÇÃO DAS MEMÓRIAS, ZIA SOARES REVELA-NOS UM OUTRO MUNDO
Titulada em crioulo guineense, a peça “Arus Femia”– que em português significa “Arroz Fêmea” –, estreia-se esta semana no Teatro Campo Alegre, no Porto, com duas sessões. A primeira está marcada para sexta-feira, 21, às 19h30, seguindo-se outra no sábado, 22, às 21h30. Neste dia, as reflexões desembrulhadas em palco estendem-se ao programa da Conferência “Arroz Africano no Mundo Atlântico”, que acontece a partir das 14h30, no Rivoli. “Para além da obra artística, esta é uma discussão para a sociedade civil”, sublinha Zia Soares, que, de inquietação em criação, encontra novas chaves de leitura do mundo.
EM DESTAQUE
Nasceu em França, há 32 anos, com Marrocos e Tunísia no sangue, e cresceu sob a inspiração de múltiplas influências culturais, desde cedo alargadas a viagens frequentes a Israel. Já adulta, Juliata Cohen encontrou em Jerusalém um bastião de entendimentos humanos, de onde partiu para seguir um apelo de alma, pronunciado numa língua que desconhecia, mas admirava: o bambara. Encontrou o idioma nas vozes de artistas como Fatoumata Diawara, Amadou & Mariam ou Oumou Sangaré, e, por dois anos, fez dele ‘morada’, entre viagens pelo Mali e o Burkina Faso. Já com algum vocabulário em bambara, seguiu para Cabo Verde, destino de um novo impulso musical, entretanto adoptado como casa e laboratório de experiências, traduzidas em “22:22”, o seu álbum de estreia. Lançado a 22 de Janeiro, o trabalho conta com os contributos de duas referências da música cabo-verdiana – Djô da Silva e Mario Lucio –, e, por estes dias, está a ser apresentado em Portugal. Amanhã, 8, Juliata sobe ao palco do Wow, no Porto, e no sábado seguinte, 15, podemos ouvi-la na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa. Até lá, fique a conhecer um pouco mais da sua história, que também passa pelo artesanato.
A “Gala Black History Month”, organizada pela Embaixada do Canadá em Portugal, em parceria com a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e também com a Câmara Municipal de Lisboa, homenageou, no passado dia 19 de Fevereiro, quatro personalidades que marcaram e continuam a marcar a História Negra em Portugal. A atleta Naide Gomes e o músico Tito Paris subiram ao palco para receber as suas distinções, a que se juntaram mais duas, atribuídas a título póstumo: coube a um dos filhos de Johnson Semedo receber o tributo ao pai, enquanto a homenagem a Georgina Ribas foi confiada à rede Afrolink.
Protestam nas ruas, sempre com o hashtag do momento a tiracolo para poses instagramáveis. Ocupam o espaço mediático com tiradas de eloquência, demasiadas vezes confundidas com originalidades de pensamento. Não perdem uma ocasião para falar de como se integram na vida dos “bairros” – apadrinhados por cachupa e amadrinhados por batukadeiras –, nem se coíbem de usar as vidas negras que observam para teorizar sobre o que (lhes) faz falta. Dizem-se aliados da luta anti-racista, mas revelam-se uns apaniguados do sistema, quando as pessoas pelas quais dizem marchar, e com quais se orgulham de ‘misturar’, ousam pensar e expressar entendimentos diversos – e até contrários – dos seus. Só assim se explica que, em vez de apoiarem a Iniciativa Legislativa Cidadã para criminalizar o racismo, a xenofobia e de todas as práticas discriminatórias, os pretensos aliados prefiram invocar objecções, colocando-se acima das pessoas que sofrem a violência racista e a vêem escapar impune. Como quem sabe sempre mais. Só que não!
Cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas votaram num partido abertamente racista e xenófobo nas últimas Legislativas, transformando-o na terceira força política em Portugal. Os alarmes deveriam ter soado bem alto, mas, em vez disso, várias vozes se apressaram a absolver o eleitorado racista, justificando as suas escolhas com “zangas”, “ressentimentos” e “descontentamentos”. Como se houvesse contexto capaz de tornar aceitável e até justificável o racismo e a xenofobia. Ou como se as pessoas escolhessem propostas racistas inocentemente e sem intenção. Afinal, garante o primeiro-ministro, em Portugal "o ódio e as questões raciais não têm uma natureza de preocupação”. Facto é que a aparente facilidade com que a extrema-direita mobiliza racistas e xenófobos no país contrasta com a dificuldade que o Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e a Xenofobia (GAC) enfrenta para juntar 20 mil assinaturas em defesa da criminalização do racismo. O Afrolink deixa-lhe com o essencial desta iniciativa do GAC, percorrida a partir dos esclarecimentos dos juristas Anizabela Amaral e Nuno Silva, que integram a campanha.
Entre o que aprendeu sobre educar uma criança negra numa família totalmente branca, e aquilo que começou a viver e a sentir, Neus Rubau precisou de uma espécie de “reprogramação” a partir do momento em que adoptou Talaku. Dos comportamentos racistas que começou a identificar, aos conflitos de identidade da filha, Neus ganhou outra consciência racial, e novas necessidades, como aprender a cuidar do cabelo afro. Uma história que hoje se conta com loja online, serviço de consultoria personalizado, e uma marca própria: a Curly & Roll.
Neste 2025 em que se assinalam os 50 anos das Independências de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, a editora Letra Livre vai lançar uma há muito aguardada reedição da obra antológica de Mário Pinto de Andrade, intitulada “Origens do Nacionalismo Africano”. A novidade é antecipada ao Afrolink por Henda Ducados, filha do líder histórico, que, juntamente com a irmã, Annouchka de Andrade, se tem dedicado a preservar e difundir o legado familiar. Além de nos darem a conhecer os múltiplos contributos paternos para os processos de libertação – ultrapassando as fronteiras mais estritas da intervenção política –, Henda e Annouchka abrem os arquivos maternos, permitindo-nos aceder à vida e obra de Sarah Maldoror, apelidada de “mãe do cinema africano”.
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Um programa semanal onde cabem todas as vidas, emocionalmente ligadas por experiências de provação e histórias de humanização.
ÚLTIMOS ARTIGOS
A 1.ª edição do SUL – Festival Internacional de Artes Performativas acontece de 2 e 6 de Abril, nas freguesias da Costa da Caparica e da Trafaria, com espectáculos, concertos e workshops, que incluem várias criações negras, que o Afrolink destaca na agenda desta semana. Esta é uma iniciativa promovida pela Hotel Europa, e apresenta-se como o “primeiro festival de teatro documental em Portugal”.
O clube Recreios Desportivos da Trafaria recebe, na próxima quinta-feira, 3, a sessão “África em Vinil”, do DJ Nelson Makossa, reconhecido pelo seu amplo conhecimento e divulgação da música africana, em particular das décadas de 1970 e 1980. A proposta insere-se na programação da 1.ª edição do SUL – Festival Internacional de Artes Performativas, promovida pela Hotel Europa.
A performance “Fragmentos”, da autoria da coreógrafa e professora de dança Marisa Paulo, sobe ao palco do Auditório Costa da Caparica, no próximo sábado, 5 de Abril, às 21h. A apresentação insere-se na programação da 1.ª edição do SUL – Festival Internacional de Artes Performativas, promovida pela Hotel Europa.
O CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde abre-se na próxima sexta-feira, 4, às 19h, a mais uma sessão do “Kriolo Sounds - Cada Nota, Uma Estória”, desta vez com a banda Bordão Cabo-verdiano, integrada por Armando Tito, Djone Santos, Bilocas, Blimundo e Tonecas.
No próximo domingo, 6, o músico Mbalango apresenta o workshop “Xithokozelo ya Mbira – Contos de Mbira”, no âmbito da 1.ª edição do SUL – Festival Internacional de Artes Performativa, promovida pela Hotel Europa. Primeiro às 10h, e depois às 14h, o artista convida-nos a conhecer a “história, construção e papel” do instrumento Mbira na música de Moçambique, o seu país.
A Livraria Lulendo vai levar L.O.V.E. ao Palácio Baldaya, em Benfica, evento que nos convida a Ler, Ouvir, Ver e Expressar. O programa, de acesso livre, acontece nos dias 16 e 17 de Maio, incluindo, para além de apresentações de livros, rodas de conversa, música, artes plásticas e momentos de yoga e capoeira.