GOLPES DE HUMANIDADE:A FORÇA DO BOXE CONTRA ÓDIOS E PRECONCEITOS
De treinos abertos a quem se quiser juntar, Valter Ventura derruba, encontro após encontro, os muros que, fora do “seu” ginásio, desumanizam a sociedade, cada vez mais fechada para a diferença. Contra os discursos e as práticas políticas que impõem fronteiras entre “nós” e “os outros” – e fabricam percepções de insegurança para alimentar narrativas de medo –, o antigo pugilista faz do boxe lugar de pertença, e de novas possibilidades.
EM DESTAQUE
Entre greves e manifestações, violentamente reprimidas pelas forças de segurança, “um grupo de moçambicanas e moçambicanos preocupados com o rumo que o País tem tomado”, lançou o manifesto cidadão “Fazer de Moçambique um País Seguro para a Cidadania”. O Afrolink contactou um dos promotores deste repto, o jurista e académico Tomás Timbane, que, por e-mail, explicou o essencial sobre esta iniciativa.
Sem apresentar medidas concretas para combater o racismo, e em particular a violência policial contra corpos negros, o Governo recebeu, na passada terça-feira, 29, representantes de colectivos da Área Metropolitana de Lisboa que actuam em bairros municipais. O encontro, no qual o Afrolink esteve presente, evidenciou a necessidade de uma articulação entre as instituições públicas e a sociedade civil, apenas pontualmente – e em situações críticas – chamadas a intervir. Os dias que se seguiram à morte de Odair Moniz, às mãos da polícia, tornam igualmente óbvio que a o compromisso e consciência colectivos sobre questões raciais, continua restrito a planos de intenções.
Como se não bastasse o absurdo de termos um observatório branco para combater uma criação branca, agora também temos o absurdo de uma “Pós-Graduação em Racismo e Xenofobia” coordenada integralmente por pessoas brancas, e, até ver, ministrada sem uma única pessoa não-branca. A ausência é notória, e isso ressalta não apenas do mosaico de imagens que acompanha este texto. Para quem pensou essa pós-graduação, as manifestações de racismo não atravessam toda a sociedade. Só “aparentemente” é que as encontramos “em todo o lado – no local de trabalho, nas ruas, nas interacções quotidianas”. Não estranha, por isso, que a sessão 6 da formação arranque com uma pergunta inqualificável: “Mas o racismo existe mesmo?”.
“Libertar Portugal do colonialismo: reparação e políticas públicas”. Este foi o mote lançado pelo grupo parlamentar do BE, numa audição que no passado dia 20 de Setembro, juntou pessoas que admiro profundamente. A Belinha, que temos a sorte de nos ver representar em tantas frentes políticas, do associativismo às partidárias; o Miguel de Barros que me faz acreditar mais e mais em presentes partilhados e humanizados, e em futuros sonhados; e o Miguel Vale de Almeida, que me habituei a ler entre crónicas no Público, e a admirar por múltiplos posicionamentos fundamentais, nomeadamente anti-racistas.
Idealizado pela empresária Mónica Soares, o projecto “Black Inspiration Talks” realiza na próxima quinta-feira, 3, em Lisboa, a sua conferência inaugural. Com início às 14h, encerramento às 19h, e um leque diversificado de convidados nacionais e internacionais, o evento quer pôr-nos a falar sobre inspiração negra, e – mais do que isso – a avançar sob o seu impulso.
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ÚLTIMOS ARTIGOS
A Cinemateca Portuguesa – Museu de Cinema apresenta, de 12 a 23 de Novembro, em Lisboa, um ciclo de filmes dedicados a Angola. A proposta, disponível online, começa com obras de António Ole – “Carnaval da Vitória” e “O Ritmo do Angola Ritmos”, ambas de 1978. Para além do que está em cartaz, o programa, acessível na página da Cinemateca, inclui, a 16 de Novembro, uma mesa-redonda sob o mote “Do cinema de Estado ao cinema fora de Estado: Angola”.
Pela 11.ª edição a ocupar o grande ecrã, a MICAR – Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista está de volta, de 14 a 17 de Novembro, ao Batalha Centro de Cinema, no Porto. Desta vez, a programação centra-se na denúncia da ocupação da Palestina e de outras ocupações, “promovendo resistências e libertações, reivindicando o direito a existir”.
No próximo dia 14 de Novembro, o Museu de Lagos, no Algarve, projecta, às 19h, o documentário “Visões do Império”, enquadrado na segunda e última sessão deste ano do projecto “Libertar a Memória #2”.
Em cena até ao próximo dia 17 de Novembro, na Sala Mário Viegas, do Teatro São Luiz, em Lisboa o espectáculo “Belonging | E di | Pertenencia | Zugehörigkeit | Pertença”, de Raquel André, reserva-nos “uma viagem por possíveis encontros ao sentimento de pertença”. O caminho, para percorrer a partir do palco, sempre às 19h30, passa por “encontrar pessoas, conhecer as suas histórias pessoais, de vida, de memórias cheias de futuro”.
André M. Santos, Mick Trovoada e Rita Cássia unem-se na “Performance Estado (anti) Manicomial”, que será apresentada no próximo domingo 10, às 11h, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. O espectáculo é, antes de mais, segundo antecipa a sinopse, um “rito de celebração da vida, música e dança”.
A Casa Independente, em Lisboa, recebe hoje, 9, às 22h, mais uma noite Fidju-Fema, desta vez para celebrar a arte negra e cúir em Portugal, numa organização em parceria com o colectivo Afrontosas.