VOANDO COM O INIMIGO: QUEM VÊ O 25 DE ABRIL, A LUTA CONTRA O FASCISMO E JOSÉ AFONSO COMO UM ATAQUE?
A política de agressão está a impor-se em Portugal, a partir da normalização do Chega que, a cada intervenção, declara guerra à Democracia, criminaliza grupos, e empurra o país para um abismo fascista. Na última terça-feira, 9, num voo da TAP em direcção a Bruxelas, uma comitiva desse partido disparou insultos racistas e xenófobos contra pessoas negras que seguiam nessa viagem. Em protesto, projectei comigo a força das ruas, num sonoro “25 de Abril Sempre, fascismo nunca mais”, e acompanhei o momento com a reprodução do “Grândola, Vila Morena”. Miguel Cardoso, que seguia comigo, entoava a composição de José Afonso quando Pedro Pinto, igual a si próprio, lhe dirigiu insultos racistas, encerrados com a “ordem” para se calar.
EM DESTAQUE
Aos 86 anos, o multipremiado actor e realizador brasileiro Antonio Pitanga apresenta-nos o filme da sua vida: “Malês”. A produção, que levou quase três décadas até chegar ao grande ecrã, transporta-nos para a Bahia de 1835, ano marcado pelo Levante dos Malês. O acontecimento é apontado como a maior rebelião de pessoas escravizadas no Brasil, e povoa o imaginário de Pitanga desde a infância, quando “o desejo de contar histórias ainda por conhecer” começou a ganhar forma. A busca por saber encaminhou-lhe os passos para o antigo Alto Volta, hoje Burkina Faso, onde, em 1964, procurou ir à raiz dos seus questionamentos: “De onde eu vim?”. As memórias da incursão africana, bem como dos ímpetos de criança, foram partilhadas pelo autor, no final de Novembro, em Berlim, após a exibição de “Malês”, longa exibida na sessão de abertura do Cine Brasil. Ainda sem data de apresentação em Portugal, o filme já marcou presença em países africanos, e suscita o interesse de universidades americanas, empenhadas em conhecer esse importante capítulo da resistência negra. Seja onde for, Pitanga defende a importância de “contar uma história dessas, e ter a alegria de a levar para as favelas, os quilombos, e África”. O Afrolink espera que a viagem de “Malês”, com destino a um maior conhecimento sobre a Escravatura, chegue às salas portuguesas. Até lá, deixamos-vos com um encontro pleno de lições e de inspiração.
Entre aprendizagens online, num caminho de autoconhecimento feminino e africano, a poetisa, performer e activista Vânia Andrade encontrou sustentação nos ensinamentos da farmacêutica holística Malika Rodrigues. Primeiro como seguidora dos conteúdos partilhados por Malika nas redes sociais – sob a assinatura Malika Soul –, e depois enquanto sua mentoranda, “Puma”, como também é conhecida, quis fazer dos novos saberes um espaço de ligação a outras mulheres. Nasceu assim o “Raiz Sagradu”, construído como um “círculo de mulheres africanas, onde o descanso é honrado, a consciência sábia do útero sagrado é despertada, e o amor-próprio é cultivado”. Cerca de um ano depois da estreia em Lisboa, a proposta regressa no próximo dia 29 de Novembro, em Caxias. Desta vez em formato de retiro diurno, com seis horas de duração – das 12h às 18h –, o “lugar de partilha” promete promover a reconexão a “uma tradição ancestral feminina”. As inscrições estão abertas, e o Afrolink dá-lhe a conhecer o essencial deste encontro, em conversa com as suas criadoras.
Por esta altura, há exactamente um ano, o país reagia, em sobressalto, a uma onda de protestos nas periferias da Área Metropolitana de Lisboa, motivada pelo assassinato de Odair Moniz, às mãos de Bruno Pinto, agente da PSP. O crime, prontamente justificado por narrativas racistas, assentes na criminalização da vítima e na defesa da Polícia, evidenciou, mais uma vez, a política de impunidade que grassa nas forças de segurança. Aliás, não fossem os vídeos captados pelos moradores da Cova da Moura – onde Odair Moniz foi mortalmente baleado –, e talvez ainda estivéssemos a ouvir testemunhos sobre como a vítima empunhou uma faca contra o agente, forçando-o a disparar em legítima defesa. Não uma, mas duas vezes, sublinhe-se, não fosse Odair feito à prova de bala. Assassinado a 21 de Outubro de 2024, Dá, como era carinhosamente tratado, deixou viúva, dois filhos, e uma comunidade enlutada. Todos pedem Justiça. Todos pedimos Justiça, e ela passa pelo Tribunal de Sintra, onde o homicídio começou a ser julgado, na última quarta-feira, 22 de Outubro. Amanhã, 29, há mais.
O Parlamento aprovou hoje, na generalidade, o projecto de lei que proíbe o uso, em espaços públicos, de “de roupas destinadas a ocultar ou a obstaculizar a exibição do rosto", designação onde se incluem as burcas. A proposta, do Chega passou com o apoio do PSD, Iniciativa Liberal e CDS e contou com votos contra do PS, Livre, PCP e Bloco de Esquerda. PAN e JPP abstiveram-se. “Enquanto mulher feminista e deputada socialista”, Eva Cruzeiro explica, neste artigo de opinião que o Afrolink publica, porque se recusa “a aceitar que a emancipação das mulheres seja invocada para legislar contra elas”. “Esta medida não protege as mulheres muçulmanas, silencia-as. Não promove liberdade, impõe exclusão. Não defende os seus direitos, criminaliza a sua diferença”.
Mais de cinco anos depois de ter criado a página ABlackHistoryofArt, no Instagram, Alayo estende a sua intervenção a várias outras plataformas, com destaque para o podcast “A Shared Gaze” (Um olhar partilhado), a que juntou, já neste ano, o lançamento do seu livro de estreia, intitulado “Reframing Blackness, What's Black About History of Art” (Reenquadrando a Negritude, O que há de Negro na História da Arte). A obra, recém-editada pela Penguin, serve de mote para uma conversa com o Afrolink, realizada em vésperas da apresentação portuguesa, marcada para as 18h30 de hoje, 7, no TBA – Teatro do Bairro Alto. O momento, com moderação do autor, actor e curador Paulo Pascoal, dá uma dimensão profissional a uma já longa relação de Alayo com Lisboa. “Nunca trabalhei em Portugal, mas nos últimos 10 anos tenho passado muito tempo no país”, diz, partilhando os planos de transformar a actual autorização de residência num pedido de cidadania.
“Por uma Educação com Justiça, Representatividade e Compromisso Ético”, a Rede Nacional de Profissionais Negras e Negros propõe-se “mapear e chegar a todas as professoras, professores, educadoras e educadores negros que actuam em Portugal — no continente e nas ilhas — criando um espaço de conexão, escuta e acção colectiva”. O propósito ganha vida online, a partir de um repto à participação, que o Afrolink divulga.
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ÚLTIMOS ARTIGOS
O Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa recebe na próxima quarta-feira, 10 de Dezembro, às 17h, a apresentação do livro “The Liberation of Portuguese Africa, 1961-1975. International Exile and Solidarity” (Palgrave, 2025), em tradução livre “A Libertação da África colonizada por Portugal, 1961-1975. Exílio internacional e solidariedade”.
A peça “Ponto Morto”, sucesso de crítica e de público no Brasil, estreia-se no Teatro Ibérico, em Lisboa, no próximo dia 11, às 21h, com Daniel Martinho e Danilo da Mata nos papéis principais. Em cena até 21 de Dezembro, esta é uma história que nos propõe “uma travessia entre a lucidez e o delírio, entre o gesto e o silêncio. Garanta hoje mesmo o seu bilhete.
Com um programa de dois dias, calendarizado para 12 e 13 de Dezembro, em localizações diferentes, o “Projeto AGRRIN - Corpos geradores: da agressão à insurgência. Contributos para uma pedagogia decolonial”, realiza a sua conferência final de apresentação de resultados da pesquisa.
O Teatro Meridional, em Lisboa, assinala com “Jornadas de Reflexão”, marcadas para os próximos dias 15 e 16 de Dezembro, os 50 anos das Independências de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, quatro dos cinco países africanos colonizados por Portugal. “A descolonização nas artes performativas” é o mote do encontro, que conta com a participação de companhias como o Teatro GRIOT e de colectivos como as Aurora Negra.
O Mercado de Arroios realiza, no próximo dia 20 de Dezembro, das 10h às 19h, o Mercado Comunitário de Inverno, iniciativa que disponibiliza, mediante inscrição e selecção, bancas para artistas, artesãos, pequenos produtores e criadores. As vagas são limitadas!
Depois de no ano passado ter financiado 10 projectos, o Programa de Apoio em Parceria “Arte e Periferias Urbanas” – resultante de um acordo de parceria entre a DGARTES e a AIMA - Agência para a Integração, Migrações e Asilo – está de regresso para o segundo concurso, que decorre até 29 de Dezembro, com uma dotação global de 500 mil euros.