A banga que arquitecta o resgate da identidade africana em Angola

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A banga que arquitecta o resgate da identidade africana em Angola

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por Paula Cardoso

A inquietação soltou-se entre salas de aulas e corredores da faculdade de Arquitectura da Universidade Lusíada de Lisboa. Yolana Lemos, Elsimar de Freitas e Kátia Mendes cruzaram programas de estudo com planos de resgate de uma identidade angolana perdida, missão que agrega também os olhares de Mamona Duca e Gilson Mendes.

Todos ligados pela Arquitectura, área na qual Mamona e Gilson já se movimentam profissionalmente, os cinco lançaram o projecto Banga Nossa, online desde o início do ano.

“Queremos dar voz aos arquitectos angolanos que procuram dar o seu contributo para o país, mas não conseguem”, introduz Kátia, assumindo a sua quota-parte nesta empreitada.

Recém-formada em Lisboa, e ainda sem data para voltar a aterrar em Luanda – pendente da evolução da pandemia –, a lubanguense não tem dúvidas sobre a rota profissional.

“Posso até ficar mais um tempo em Portugal, para ter a possibilidade de trabalhar num projecto a nível europeu, mas o meu objectivo é regressar ao meu país”.

A vontade é comum a Yolana e Elsimar, os outros dois elementos do Banga Nossa que continuam em território luso, enquanto Mamona e Gilson dão os primeiros passos como arquitectos em Angola.

Angolanizar os projectos

A experiência profissional, conjugada com novos saberes académicos, reforça a consciência do colectivo para a necessidade de uma mudança estrutural.

“A arquitectura presente no nosso país ainda é muito estrangeira”, nota Kátia, sublinhando que os ateliês instalados em solo angolano insistem em ignorar as especificidades nacionais.

“Continuamos a querer obrigar o espaço a receber influências estranhas e desajustadas à nossa realidade, por estarmos desligados do que nos é natural, do que faz parte de nós”.

 

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Inconformados com a deriva identitária que observam no património arquitectónico nacional, os cinco integrantes do Banga Nossa querem angolanizar os projectos, a partir de uma valorização dos materiais locais.

“Sinto que precisamos muito de referências, para deixarmos de olhar para o quintal do vizinho, e começarmos a ver o potencial do que temos entre nós”, defende Elsimar, a outra voz da Banga Nossa que se juntou à conversa com o Afrolink.

Valorizar os materiais locais

Na recta final da sua formação, o futuro arquitecto  lembra que na Huíla, e também na zona mais rural de Malanje, um material destaca-se nas construções: a taipa.

“Para quem não conhece, é a nossa argila misturada com raízes e outras coisas do género, e que serve para fazer blocos”, explica o angolano, notando que o Ocidente continua a monopolizar influências em Angola.

“Um dos objectivos do nosso projecto é mostrar que podemos pegar em materiais locais e construir tudo o que quisermos”, explica Elsimar, lembrando que “África foi das primeiras civilizações a ter grandes envergaduras, em termos de arquitectura e não só”.

O resgate do caminho interrompido – que o angolano observa em países vizinhos, como a Etiópia, por exemplo – esbarra em interesses políticos e económicos, lamenta o colectivo, determinado a inverter rumos desviantes.

“Quando as pessoas se aperceberem do tempo e dinheiro que estão a desperdiçar com blocos pré-fabricados e tijolos, a indústria sabe que vai perder o poder”, destaca Elsimar, frisando que é fundamental sensibilizar população e classe governante para as vantagens de um estudo do meio.

“Se eu fosse um dirigente qualquer e me estivessem a apresentar um projecto, dizendo que poderia ser feito com este ou aquele material que temos em abundância no nosso território, eu iria perguntar: ‘Já estudaram a viabilidade do material, quantos anos ele consegue durar?”.

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Estudar os recursos com viagens pelas províncias

Com mais interrogações do que respostas, o finalista de Arquitectura adianta que o colectivo Banga Nossa está focado em propor soluções que sejam uma aposta credível e sustentável.

“Não basta saber que temos alguns materiais em abundância, temos de os conhecer nas suas várias componentes, físicas, mecânicas etc, e isso vai levar algum tempo”.

O calendário de execução antecipa viagens de estudo pelas diferentes províncias, num roteiro que, não fosse a pandemia, já teria sido inaugurado no Namibe.

É contudo em Luanda que se concentram os grandes projectos, reconhece o colectivo, atento às distorções da paisagem.

“Uma das primeiras coisas a ser feita é um plano director de Luanda que reflicta o estudo das paletes de cores que devem ser utilizadas”, considera Elsimar, defendendo que as tintas não devem ser aplicadas apenas com propósito estético.

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O finalista de Arquitectura aponta, por exemplo, o caso alentejano, em que o branco das casas actua como ‘bloqueador’ da absorção do sol.

O angolano realça ainda que Luanda deve apostar forte na arborização, proposta que a colega Kátia enquadra no incontornável trabalho de mapeamento de recursos.

“Que plantas são indicadas para cada área exterior? Temos de estudar para evitar os erros do passado!”.

O aviso da recém-formada reaviva velhos casos de importação de palmeiras, que acabaram por sucumbir ao clima angolano.

“Temos de estar no terreno para conhecer a nossa realidade”, insiste.

Enquanto o trabalho de campo não avança, o Banga Nossa imprime a sua marca online, com a iniciativa Cabana de Arte. “É uma forma de mostrarmos a identidade que queremos trazer para a arquitectura angolana, e de dizermos que temos capacidade de responder às necessidades do nosso país”, resume Kátia.

 

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Exposições e uma cabana

O compromisso cumpre-se através de exposições mensais que juntam arquitectos e artistas, numa parceria de exaltação da identidade angolana. “A partir de instalações virtuais, levamos o público numa viagem que pretende ser o mais sensorial e interactiva possível”, lê-se na morada online do projecto.

A simbiose mede-se já por cinco mostras, iniciadas com “Cokwe: A Terra como Tela”, que aliou a arquitectura de Yolana com a arte de Banga. 

“Até ao final do ano, temos as exposições do Cabana de Arte todas agendadas”, revela Kátia, deixando em aberto a hipótese de surgirem novas iniciativas. “Os arquitectos que fazem parte do grupo assumiram os primeiros três projectos do Cabana de Arte, mas agora o papel é o de mediar a relação entre arquitectos e artistas, e divulgar as exposições que resultam dessa interacção”.

O trabalho actualmente em exibição une a artista Márcia Lima e as arquitectas Cláudia Cândido, Tânia Rosa, numa missão de resgate das línguas nacionais angolanas, concretizada na mostra “Fwanana: Dialectos da Terra”.

Seja qual for o tema da próxima exposição, o colectivo Banga Nossa promete reforçar a identidade nacional, fiel ao nome que lhe dá vida.

“Não dá para definir banga numa só palavra. É algo que o angolano entende. É uma maneira de ser, de estar, de falar, que identificamos como nossa”. Nacional, e, no que depender da intervenção dos bangões de serviço, cada vez mais arquitectonicamente distinguível.

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