É um padrão português com certeza: perseguir para não deixar reflectir

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É um padrão português com certeza: perseguir para não deixar reflectir

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section][et_pb_section fb_built="1" _builder_version="4.4.7" width="100%"][et_pb_row _builder_version="4.4.8"][et_pb_column type="4_4" _builder_version="4.4.7"][et_pb_text _builder_version="4.4.8" text_font="|600|||||||" text_font_size="17px" text_line_height="1.6em" custom_margin="||13px|||" hover_enabled="0"]Lisboa acordou no último domingo, 8, com uma vista inédita do padrão dos descobrimentos, que, grafitado a vermelho e azul, exibia uma frase de leitura histórica. A inscrição, em inglês, traduzível para “Velejando cegamente por dinheiro, a humanidade afunda-se num mar escarlate”, foi entretanto apagada, tal como qualquer tentativa de encetar um diálogo sobre o seu conteúdo. Mais uma demonstração de que o padrão nacional permanece igual a si próprio: se a mensagem confronta a narrativa romântica das “descobertas”, silencie-se e persiga-se o mensageiro. E não, não estou a defender actos de vandalismo, estou a defender a urgência de um debate sério e profundo sobre os glorificados “heróis do mar”, para que sejamos capazes de aportar a necessária reparação histórica. Com passagem pela emissão de hoje d’ O Lado Negro da Força.[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][et_pb_row column_structure="1_2,1_2" _builder_version="4.4.8" hover_enabled="0"][et_pb_column type="1_2" _builder_version="4.4.8"][et_pb_text _builder_version="4.4.8" text_font_size="16px" text_line_height="1.6em" custom_margin="||13px|||" hover_enabled="0" locked="off"]

por Paula Cardoso

O que acontecerá se juntarmos à narrativa nacional dos “descobrimentos”, versões transnacionais de acontecimentos que colocam Portugal no centro na destruição de milhões de vidas, pilhagem de civilizações e desmantelamento de culturas? O país mergulhará numa crise de identidade insanável? Voltará a perder a soberania?

Que fantasmas não permitem que sejamos capazes de confrontar o passado e de reconhecer que a História não é um romance floreado, cristalizado e isento de recensão crítica, mas um acervo dinâmico de realidades, vidas e factos que continuam a ser produzidos e escritos?

Porque é que não conseguimos olhar para a contestação a monumentos – nomeadamente aquela que visa o padrão dos descobrimentos – como um capítulo válido da nossa História, em vez de a rotularmos negativamente como uma tentativa de apagar a História?

E já que falamos em apagamentos, que tal reflectirmos sobre os apagamentos por detrás de cada monumento com que nos cruzamos? Que história conta, e que história deixa por contar?

A avaliar pelas notícias dos últimos dias foi justamente o que fez a cidadã francesa Leila Lakel, apontada como a autora de um grafiti que, no último fim-de-semana, assinalou o passado de violência perpetuado pelo padrão dos descobrimentos. Com estas palavras:  "Blindly sailing for monney [sic], humanity is drowning in a scarllet [sic] sea lia [sic]”, traduzível para “Velejando cegamente por dinheiro, a humanidade afunda-se num mar escarlate”.

“Só nos falam da luso-ternura, foi mais morte, gamanço e tortura”

A mensagem, prontamente removida e amplamente repudiada como um acto de vandalismo – para alguns equiparável a terrorismo – ofereceu uma excelente oportunidade (mais uma) de promovermos um debate sério e profundo sobre os glorificados “heróis do mar”. Mas o país ainda prefere desconversar a enfrentar a herança histórica.

Nós não podemos. Na pele de descendentes de pessoas escravizadas e colonizadas, resistimos contra continuidades históricas que nos agridem diariamente. E continuaremos a questionar, como fez  o artista visual Igor Mauricio, na videoperformance “De uma Belém a outra” : “Se a formação de uma identidade nacional passa pela escolha de heróis e símbolos, porquê glorificar um passado de racismo e colonialismo? Porquê homenagear as figuras responsáveis por esse passado sangrento?”.

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As interrogações acompanham-nos ao longo desse trabalho, no qual somos lembrados que “não podemos mudar o passado”, e que “a História até aqui já foi escrita, assim como os monumentos já foram construídos”. Ainda assim, acrescenta Igor, precisamos “ressignificar as imagens que reforçam estereótipos da dor”, e reconhecer o seu impacto prejudicial.  “Os monumentos que homenageiam e exaltam as figuras directas nos processos de colonização também são formas contribuir para a ideia de hierarquias entre raças e nacionalidades, pois alimentam um orgulho do colonialismo”.

Exigir uma reparação histórica não equivale a sugerir que a história deva ser reescrita, mas a defender a importância de construirmos, no presente, uma visão crítica do passado, acolhendo a pluralidade de memórias que formam a identidade nacional. Exigir uma reparação histórica não equivale a impor uma leitura única e ‘politicamente correcta’ do passado, é exigir que se reconheçam outras versões da História, capazes de evidenciar a vilania criminosa dos “heróis do mar” e de outros algozes imortalizados no espaço público.

Ou como se cantava recentemente: “Há um outro lado, como em tudo na vida, e na escravatura a cena é refundida.  Só nos falam da luso-ternura, foi mais morte, gamanço e tortura. Foram brancos negreiros, barcos tão cheios, foram oceanos de horror”. Tingidos de um profundo escarlate.

Um tom pelo qual navegaremos n’ O Lado Negro da Força. Hoje com Dino D'Santiago como convidado.

Para ver no Facebook e no YouTube, a partir das 21h. 

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