Ocupar o Instagram dos famosos, para aumentar o alcance da luta anti-racista
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Ocupar o Instagram dos famosos, para aumentar o alcance da luta anti-racista
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As redes sociais de celebridades do Brasil e dos EUA transformaram-se, na ressaca do assassinato de George Floyd, num espaço de ocupação, onde o movimento “Black Lives Matter”, ou “Vidas Negras Importam”, amplifica o alcance da luta anti-racista. A iniciativa, que tem como palco principal o Instagram, continua sem expressão em Portugal.
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por Paula Cardoso
Um vídeo de indignação contra a violência racial aqui. Um post de sensibilização para a causa anti-racista ali. Por vezes, um directo onde o tema em discussão é o racismo. Mas, no final, de cada publicação, que vozes foram ouvidas? E por quem?
Conscientes de que é urgente amplificar a luta negra, celebridades americanas e brasileiras assumem um novo compromisso: transformar o seu lugar de fama num lugar de fala negra.
A mudança começou a esboçar-se na ressaca do assassinato de George Floyd, às mãos da polícia de Minneapolis, nos EUA, e tem como palco principal o Instagram.
Depois de dividirem o espaço com pessoas negras, através de convites para entrevistas e lives temáticas sobre questões raciais, dezenas de influenciadores digitais têm reforçado o seu envolvimento, com a entrega temporária das suas redes sociais a activistas negros.
“As pessoas negras já têm voz, o que falta é espaço e oportunidade”, defende o actor brasileiro Bruno Gagliasso, num post divulgado no início de Junho. Inspirado pelo colega Paulo Gustavo, que durante todo o mês junino transferiu a sua conta no Instagram para a escritora e activista Djamila Ribeiro, Bruno lançou o próprio manifesto para uma ocupação negra das suas redes sociais.
A iniciativa de Gagliasso, em curso até ao final do ano, agrega um apelo para os seus mais de 18 milhões de seguidores: o desafio do 1%. Ou seja, em vez de se limitarem a acompanhar os conteúdos partilhados pelo “ocupante” na morada do actor, todos são encorajados a seguir o seu trabalho.
O silêncio racista
À data da estreia do novo espaço – que se repete a cada sábado –, o repto do 1% representaria um acréscimo de 170 mil seguidores para a publicitária Luana Génot, hoje seguida por 233 mil pessoas.
Antes da ocupação, Luana, fundadora e directora executiva do Instituto Identidades do Brasil, tinha menos de metade desse público, indicador que confirma o potencial do movimento.
A cedência do lugar de fama, que nos EUA mobiliza figuras como Selena Gomez, Lady Gaga e Shawn Mendes – os três juntos somam mais de 280 milhões de seguidores no Instagram –, ainda não chegou a Portugal, onde o alcance da luta anti-racista continua a ser encurtado pela negação do racismo.
Mais um sinal de que, juntos, precisamos de observar os sintomas, conforme propõe a poetisa brasileira Elisa Lucinda. A partir da ocupação das redes sociais de Bruno Gagliasso, a activista provoca desconstruções. Usa expressões pejorativas para se referir a negros? Educa crianças anti-racistas? Repara na presença e/ou ausência negra nos espaços por onde circula?
A cada reflexão, sobressai o mesmo diagnóstico: a inacção e o silêncio também são manifestações de racismo. E, conforme nos lembra Angela Davis, “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista”.
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