Pessoa negra de boca tapada: o Observatório do Racismo em “Conversas”
Meses depois de ter sido criado, o Observatório do Racismo e Xenofobia partilha connosco uma descoberta ao estilo daquelas que distorcem memórias: os temas que estão sob a sua égide “têm pouco eco nos meios mainstream de comunicação social ou, tanto quanto é para já possível avaliar, no ambiente académico”. Parabéns aos descobridores do silenciamento e invisibilização do racismo e da xenofobia na sociedade portuguesa, e aplausos pelo caminho que acabam de lançar para a resolução do que descrevem como “um evidente problema de Direitos Humanos”. Mas que via de expansão é essa? O Observatório explica: são “‘Conversas’ com um ou mais convidadas/os para (…) participarem através da apresentação e discussão informal de qualquer tópico relevante neste contexto”. Nada que pessoas negras não façam já, mas, aparentemente, ainda falta descobrir para existir. Pelo contrário, está bem à vista de quem quiser reparar aquilo que, consciente ou inconscientemente, o Observatório continua a produzir e reproduzir. Depois de se constituir apenas com pessoas brancas na estrutura, qual acto falho, a instituição ilustra as suas “Conversas” com a imagem de uma pessoa negra, cuja boca está a ser tapada por mãos brancas. Seria cómico, se não fosse trágico.
De cada vez que dou uma nova oportunidade a alguém que desmereceu a primeira, lembro-me das sábias palavras da escritora Maya Angelou: “Quando alguém te mostra aquilo que é, acredita”.
Como pessoa que procura evoluir com a crítica, aprender com a experiência e, não podendo evitar os erros, pelo menos tentar que sejam novos, tenho tendência a descumprir as palavras de Maya.
Por isso, volta não volta, eis-me no ponto de estupefacção em que encontro agora.
O Observatório do Racismo e Xenofobia – forjado na arte de observar o que o país não consegue ver, e impregnado de brancos costumes – está aí de pedra e cal (quais brasões na praça do império) na missão de comprovar que está estruturalmente contaminado.
Firme no não reconhecimento de Portugal como parte do empreendimento criminoso que inventou o racismo – leia-se este cartão-de-visita –, o Observatório parece investido num programa de auto-entretenimento
De dentro para dentro, os pensadores da estrutura aperceberam-se – pasme-se – que os temas do racismo e da xenofobia “têm pouco eco nos meios mainstream de comunicação social ou, tanto quanto é para já possível avaliar, no ambiente académico”.
Sem dúvida uma descoberta ao estilo daquelas que distorcem memórias! Digna de uma parabenização dos descobridores do silenciamento e invisibilização do racismo e da xenofobia na sociedade portuguesa, e de aplausos pelo caminho que acabam de lançar para a resolução do que descrevem como “um evidente problema de Direitos Humanos”.
Mas que via de expansão é essa? O Observatório explica: são “‘Conversas’ com um ou mais convidadas/os para (…) participarem através da apresentação e discussão informal de qualquer tópico relevante neste contexto”.
Não sabemos quem vai determinar essa relevância, da mesma forma que desconhecemos o que representa uma “experiência pessoal (ainda que “atípica”)” de percepção de discriminação, uma das abordagens elencadas como admissíveis nesses debates.
Seja como for, conversar não é nada que pessoas negras não façam já, mas, aparentemente, ainda falta descobrir para existir.
Por isso, damos uma pequena ajuda aos heróis do observar. Escutai e aprendei (ou tentai):
Até lá, notamos ainda que fica bem à vista de quem quiser reparar aquilo que, consciente ou inconscientemente, o Observatório continua a produzir e reproduzir.
Depois de se constituir apenas com pessoas brancas na estrutura, qual acto falho, a instituição ilustra as suas “Conversas” com a imagem de uma pessoa negra, cuja boca está a ser tapada por mãos brancas. Seria cómico, se não fosse trágico.