Dar o mundo a Benfica, com inspiração na Guiné e arte para uma escola

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Dar o mundo a Benfica, com inspiração na Guiné e arte para uma escola

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Antiga recordista nacional do heptatlo e do salto em comprimento em pista coberta, e campeã de Portugal em várias especialidades do atletismo, Sandra Turpin despediu-se da competição, mas nunca deixou de se pôr à prova. De desafio em projecto, a ex-desportista encontrou na sua Guiné-Bissau natal um novo sentido profissional, concretizado, em parceria com o marido Guilherme e o amigo Mamadu, na criação do Clube das Artes e Culturas Lusófonas. Especialmente activo na freguesia de Benfica, e 'de portas abertas' para uma escola de ofícios.

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por Paula Cardoso

O mapa-múndi de Sandra Turpin expandiu-se ao ritmo do atletismo. “Foram 17 anos de alta competição. Uma escola brutal porque estás a conviver com outras nacionalidades a maior parte do ano. Começas a treinar em Setembro e, a partir de Maio, é avião pelo mundo fora”.

De escala em destino, por paragens onde o português se ia enriquecendo com encontros em inglês, francês, alemão e tantas outras línguas, a ex-atleta ganhou uma maior consciência dos próprios privilégios.

Nascida na Guiné-Bissau, mas desde a primeira infância em Portugal, Sandra percebeu cedo que as oportunidades estavam muito longe de ser as mesmas nos dois países.

Por isso, quando o treinador João Abrantes a questionou sobre a selecção que iria representar, a escolha, embora afectivamente intrincada, foi peremptória.

 

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“Com todo o respeito pela terra onde nasci, vou sempre para os desafios. Então, continuei a treinar, a tratar das coisas para a nacionalidade, e efectivamente, só representei a selecção portuguesa”.

A decisão tornava um eventual apuramento para os Jogos Olímpicos muito mais difícil, mas oferecia vantagem competitiva.

“Comecei no atletismo através da minha prima, a Terezinha Vaz, que era recordista nacional do lançamento de dardo. Como a determinada altura ela também trabalhava com a Federação de Atletismo da Guiné-Bissau, eu sabia que as diferenças eram brutais”, conta Sandra ao Afrolink, explicando que o contacto com as duas realidades lhe deu estímulo extra.

“Sentia-me uma privilegiada e, por isso, ainda treinava mais afincadamente”.

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A meta guineense

Além do foco nos resultados, recompensados por várias conquistas – entre outras, os recordes nacionais do salto em comprimento em pista coberta e do heptatlo –, Sandra sempre viveu cada prova como uma oportunidade de alcançar outras metas.

“Conhecer o mundo foi uma das coisas que mais me enriqueceu como pessoa. Na minha cabeça vinha sempre: ‘Um dia, vou conseguir ajudar’”.

O pensamento moldou-se à medida do diagnóstico de carências, que chegavam não apenas da Guiné-Bissau.

“Havia atletas moçambicanos, cabo-verdianos, etc, que me ligavam e diziam: ‘Sandra, vi-te naquela competição, não tens…?”.

Calças, tops, calções...o inventário das necessidades de equipamento dos colegas de pista actualizava-se a cada conversa.

“O que é que fazia enquanto atleta? Acabava a época, e como na altura tinha um patrocínio, conseguia separar algumas peças, punha numa caixa e levava até às embaixadas, que sempre ajudaram com o envio”.

O compromisso de contribuir e de retribuir esteve sempre presente, garante Sandra, que, já depois de deixar o atletismo – à força de várias lesões –, encontrou novos caminhos de intervenção.

"Mantinha sempre aquela ideia: pela Guiné tenho de fazer, tenho de fazer”.

Primeiro através da empresa Made in Guiné-Bissau, criada para venda de produtos de artesãos guineenses, e agora por meio do Clube das Artes e Culturas Lusófonas (CACL), o destino fazedor cumpre-se em família – tal como esta conversa –, e com inspiração na terra-berço.

“A minha relação com o Guilherme, hoje meu marido, estava a ficar séria. Já vivíamos juntos, falávamos em ser pais, e, como manda a nossa tradição guineense, queria muito que o meu companheiro conhecesse o meu pai”, recorda Sandra, de volta à primeira viagem a Bissau que o casal Turpin-Tavares Pereira realizou.

 

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“O meu pai sentava-se com o Guilherme a conversar. Dizia: ‘Olha, no meu tempo, exportávamos não sei quantas toneladas de caju…a Guiné não era assim’. O meu marido ouviu relatos em primeira mão de alguém que lutou para as coisas serem normais”, conta a co-criadora do CACL, enquanto revisita as emoções desse encontro, algures em 2011.

“Aí o ‘bichinho’ guineense foi entrando no Guilherme. Nessa viagem ele também sentiu o povo. Ficou apaixonado”.

A ligação a Bissau tornou-se tão profunda que o regresso a Portugal não esmoreceu em nada os laços criados.

“Quando viemos, começámos logo a pensar: ‘Temos de fazer qualquer coisa. Mas o quê? Vamos vender produtos de lá? Mas o quê? O caju?”.

Sempre em casal, os questionamentos, prolongados por anos, foram abrindo espaço para as respostas.

“Uma das coisas que sentimos na Guiné era a dificuldade de obter alguns produtos que estávamos habituados a ter, como shampoo, por exemplo.  Por isso, pensámos em montar um negócio local, para vender bens a um preço que os guineenses pudessem pagar, para arranjar forma de terem acesso a tudo o que precisassem”, explica Guilherme Tavares Pereira.

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De empresa a associação

A prospecção de mercado acabou, contudo, por desviar o foco do casal da oferta internacional para a oferta local. Pelo caminho, Sandra e Guilherme voltaram a Bissau, já no papel de pais do Francisco, hoje com seis anos.

“Começámos a ver: ‘Há tanta coisa produzida na Guiné’. Ao mesmo tempo, a determinada altura surge um gosto mundial por tudo o que é africano, via [o filme] Black Panther. Então, pensámos: Temos é de trazer o que é da Guiné para Portugal”.

Estava assim encontrada a identidade da Made in Guiné-Bissau, empresa criada em 2018 e que, no ano seguinte, deu origem ao Clube das Artes e Culturas Lusófonas.

“Todos os contactos que fomos fazendo, no sentido de trabalharmos com o poder local, tornaram claro que teríamos de ser uma associação sem fins lucrativos”, esclarece o casal, que encontrou em Benfica o acolhimento desejado.

 

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Através de uma parceria com essa freguesia, o CACL inaugurou, no início do ano, o programa “12 meses, 12 culturas”, espelho do crescente multiculturalismo da zona.

“Houve um aumento, em Benfica, de residentes de várias nacionalidades, desde moradores da comunidade africana, a australianos, canadianos, americanos, e surgiu a necessidade de se criar um pólo de ligação”, resume Guilherme.

Antes da pandemia, a programação já tinha apresentado “pontes” para a Síria e a Guiné-Bissau, viagens culturais interrompidas pelo confinamento e ainda sem data para regressar.

O destino, esse, mantém-se: mostrar, no último sábado de cada mês, as culturas de vários países, promovendo, ao mesmo tempo, a ligação a diferentes instituições.

 

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De portas abertas para uma escola de ofícios

A programação é desenvolvida no Palácio Baldaya, a partir da visão multicultural da responsável do espaço, Rita Azevedo, e da experiência acumulada com a Made in Guiné Bissau, nomeadamente na criação, gestão e desenvolvimento de actividades culturais.

Neste domínio, há a destacar a parceria com a ANPPA - Feira de Artesanato de Bissau e também com a Aldeia de Tabatô, origem do terceiro elemento do CACL em Portugal: Mamadu Baio.

“O Mamadu é de Tabatô, mas conhece o mundo inteiro. Entras com esta criatura em qualquer sítio e conhece sempre alguém, independentemente da nacionalidade e etnia”, destaca Sandra, salientando o contributo daquele que aponta como um irmão para a vida.

“Assim que sabem que estamos a trabalhar com o Mamadu, dizem logo: ‘Então contem connosco’”.

 

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A referência, explica a voz feminina da CACL, vale tanto na Guiné, onde o clube conta com um coordenador local – Alfecene Indjai –, como em Portugal.

“Temos como base e foco a criação, formação e desenvolvimento da área cultural, com o objectivo de criar um circuito de eventos que promova a sustentabilidade económica da carreira dos artistas dos países de língua portuguesa”, indica o CACL na sua apresentação online, ressaltando ainda o empenho na organização de eventos que “promovam o conhecimento das origens e tradições” desses criadores.

Para isso, o CACL trabalha com os artistas em três pontos considerados chave para a sua inserção social: o domínio da língua portuguesa, o registo nas Finanças, e a inscrição na Segurança Social.

“Há coisas pequenas que fazem muita diferença. Por exemplo, abrir actividade nas Finanças como artista é muito mais benéfico do que estar numa luta para pedir um acto único”, ilustra Guilherme, sublinhando que, a par da capacitação dos artistas, é necessário garantir a sustentabilidade do projecto.

“O nosso objectivo macro é criar uma escola de ofícios. Algo que garanta um emprego estável para pessoas que sabem fazer coisas, seja qual for a área cultural, e permita angariar alunos que queiram aprender essas coisas”, prossegue Guilherme, antes de rematar a visão.

“Queremos fazer um ginásio de cultura, em que os artistas são os PT´s (personal trainers)”. Treinados para deixar novos criadores em forma.

 

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