Pessoa de resistência, Cláudia R. propõe “des-prisionar” o conceito de raça

Socióloga na Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, há mais de 25 anos, Claúdia Resende prepara uma viagem para os EUA, onde irá “problematizar a necessidade de ‘des-prisionar’ o próprio conceito de raça no âmago do sistema prisional português”. Mas antes de voar, faz escala n’ O Lado Negro da Força. Podemos acompanhá-la esta noite, a partir das 21h, e embarcar na sua história, iniciada na cidade angolana do Huambo, em 1974, e logo no ano seguinte fixada em Portugal. Vamos!

Cláudia Resende apresenta-se como “uma pessoa activa, de contraciclo e resistência no espaço público onde trabalha” há mais de 25 anos: Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

Licenciada em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Universidade Nova de Lisboa, é também mestre em “European Criminology and Criminal Justice Systems” (Criminologia Europeia e Sistemas de Justiça Criminais), pela Universidade de Gent, na Bélgica.

“Interesso-me especialmente por questões ligadas a reabilitação prisional; vulnerabilidades acrescidas e processos de estigmatização relativamente a grupos minoritários em meio prisional, seja em termos etno-nacionais, etno-culturais, religiosos ou etno-raciais”, adianta a socióloga, nas notas biográficas partilhadas com O Lado Negro da Força. 

Nascida no ano da Revolução de Abril, na cidade angolana do Huambo, vive desde 1975 em Portugal, para onde os pais – ele cabo-verdiano e ela de origem portuguesa – vieram na sequência das lutas independentistas, após 10 anos de vida em Angola.

Apesar da origem angolana e da mudança para o território português, em casa a educação “tinha muito da essência cultural cabo-verdiana”, porque a mãe viveu desde os 9 anos em Cabo Verde.

Embora hoje não se considere uma pessoa activista, Cláudia recorda que foi nas lutas travadas na juventude que encontrou “um passaporte de vida”: nos anos 90, foi vice-presidente da Associação Kabojovem, especialmente vocacionada para imigrantes e seus descendentes, experiência que a conduziu ao 1.º Grupo Coordenador da Luta Anti-Racista, onde se cruzou, entre outras pessoas, com Mamadou Ba.

O compromisso cívico continua bem presente na sua vida, e sobressai profissionalmente. Além de ter trabalhado no Estabelecimento Prisional de Tires com experiência de intervenção reeducativa e avaliação socio-comportamental, foi coordenadora do jornal interno “Palavras Cruzadas”; e dinamizadora de iniciativas como o “Ser Pessoa” e “África Minha”.

Hoje co-cordena a Secção Temática do Direito e da Justiça da Associação Portuguesa de Sociologia, cargo eleito para o período entre 2023 e 2027.

Colabora ainda com o Grupo de Investigação: “Direitos, Políticas e Justiça” do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, desde 2017.

Antes de se juntar à conversa com O Lado Negro da Força, esta noite, às 21h, revela que se prepara para participar, no início de Junho, no Global Meeting Law & Society em Denver, Estados Unidos da América, “onde irá problematizar a necessidade de “des-prisionar” o próprio conceito de raça / pertença racial no âmago do sistema prisional português”.

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