Opinião, Racismo estrutural Paula Cardoso Opinião, Racismo estrutural Paula Cardoso

Racismo e fragilidade branca: duas faces do mesmo Observatório

A contestação à pós-graduação em racismo e xenofobia que o Afrolink apresentou na semana passada, depressa evidenciou como a máquina que silencia e invisibiliza pessoas negras segue bem oleada, produzindo as mais engenhosas narrativas de combate ao anti-racismo. Ainda assim – e porque sigo militante do diálogo – dirigi, na última quinta-feira, algumas questões ao Observatório. Todas permanecem sem resposta, o que demonstra, uma vez mais, como é tão difícil para as pessoas brancas falar sobre racismo. Pelo contrário, é muito mais fácil remover uma página de um site – no caso, a que anunciava a malfadada pós-graduação –, e fingir que a história não aconteceu. Nada que uma longa experiência em apagamentos não facilite! Se hoje sabemos que a pós-gradução foi suspensa, isso deve-se – não me iludo – ao facto de a agência Lusa ter feito notícia da nossa contestação. De outro modo, continuaríamos a especular.

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“O racismo existe mesmo?”: do “alto” do seu Observatório, a branquitude ensina

Como se não bastasse o absurdo de termos um observatório branco para combater uma criação branca, agora também temos o absurdo de uma “Pós-Graduação em Racismo e Xenofobia” coordenada integralmente por pessoas brancas, e, até ver, ministrada sem uma única pessoa não-branca. A ausência é notória, e isso ressalta não apenas do mosaico de imagens que acompanha este texto. Para quem pensou essa pós-graduação, as manifestações de racismo não atravessam toda a sociedade. Só “aparentemente” é que as encontramos “em todo o lado – no local de trabalho, nas ruas, nas interacções quotidianas”. Não estranha, por isso, que a sessão 6 da formação arranque com uma pergunta inqualificável: “Mas o racismo existe mesmo?”.

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