Paredes antipoluição, desertos verdes e arte desenhada: o 3 em 1 de Valdemar

A rota de vida de Valdemar Joana, iniciada em Angola há 23 anos, já fixou morada na África do Sul e na Namíbia, país onde estudou Turismo e Artes Visuais. Agora em Portugal, destino da formação superior em Arquitectura, o angolano projecta uma carreira entre planos ambientalistas, que incluem erguer paredes contra a poluição e fertilizar desertos. Até lá, Valdemar aprimora-se na arte do desenho.

por Paula Cardoso

A fusão das Artes Visuais com a Arquitectura, presente na história de Valdemar Joana, é também a conjunção entre uma assumida fixação por pormenores e uma velha preocupação ambiental.

“Amo muito a Natureza e, de alguma forma, ela está presente na minha arte”, introduz o futuro arquitecto, realçando algumas minudências – nomeadamente florais – das obras que cria.

“Sou meio obcecado por detalhes, tenho a tendência de desenhar por cima de páginas escritas”.

O resultado apresenta-se online, na sua montra no Instagram, inaugurada há cinco anos, na recta final dos estudos em Turismo e Artes Visuais, realizados na Namíbia.

Agora em Portugal, para onde se mudou no início de 2019 com o objectivo de se formar em Arquitectura, Valdemar partilha os planos de carreira, indissociáveis das inquietações ambientalistas.

“Interessa-me aproveitar o lixo para capturar carbono e transformá-lo em oxigénio”, adianta o artista visual, especialmente focado em se especializar na reutilização de beatas de cigarros e redes de pesca, dois dos materiais mais poluentes do mundo. De tal forma que, só em Portugal, estima-se um consumo anual de 10 mil milhões de cigarros.

Tornar o deserto verde não é uma miragem

Para aliviar o impacto ambiental do tabaco, o Laboratório da Paisagem – unidade de investigação e educação ambiental partilhada pela Câmara Municipal de Guimarães e pela Universidade do Minho, e do Centro de Valorização de Resíduos – criou um tijolo ecológico feito com beatas.

“O uso deste tipo de lixo permite criar tijolos mais leves, com melhores propriedades de isolamento, além de reduzir em 60% o consumo de energia necessário para a sua produção”, lemos num artigo do jornal Público, que nos apresenta uma das vias de valorização de resíduos compatíveis com as aspirações profissionais de Valdemar, voltadas para a geografia africana.

Nascido em Angola, onde viveu os seus primeiros oito anos de vida, o estudante de Arquitectura planeia aplicar a formação no país de origem. Sempre em equilíbrio com a Natureza.

“Tenho a tendência de acampar muito, e nesses momentos penso em como podemos reutilizar o lixo”, adianta o angolano, que, antes da mudança para Portugal viveu na Namíbia e na África do Sul.

A rota de realidades africanas inspira, por exemplo, a vontade de tornar o deserto verde.

Soa impossível? Não é, apressa-se a responder Valdemar, enquanto tenta explicar, num misto de inglês e português, o milagre da transformação: “É possível com o recurso a fezes, tanto de vacas como de humanos”.

O ambientalista de 23 anos lembra que essa metamorfose é favorecida pela proximidade ao mar, comum a tantos desertos, permitindo plantar novas formas de vida.

De forma simplificada, Valdemar propõe-se utilizar rios que já secaram como vias de transporte de água salgada para o deserto, ao encontro da sua ‘verdificação’. “Utilizando as fezes, cria-se um tanque por baixo da areia que, lentamente, vai trazer minhocas e outros animais. Com o tempo a água e os dejectos vão abrir caminhos e acabar por fertilizar a areia”.

A comunhão natural tem naquele que é considerado o deserto mais árido do mundo, um “case study”, conforme descrito no artigo “Cocô de aves marinhas ajudou comunidades antigas a plantar em Atacama”, publicado na revista Super Interessante.

Da América do Sul para África, como seria, por exemplo, uma adaptação angolana? Valdemar pretende ir além do exercício especulativo. Mas ainda faltam três anos de Arquitectura antes do voo profissional. Até lá, é no desenho que expressa a relação com a Natureza. Transformada em criações de arte.

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