A chave para empregos sustentáveis, que também ‘destranca’ migrações

Após cerca de duas décadas de experiência associativista, com especialização em populações migrantes, Carla Santos criou a Capacitare, empresa que dá resposta a necessidades que encontrou no terreno. Nomeadamente de formação de líderes comunitários, empregabilidade e documentação. Sempre com o foco de “transformar a vida de quem procura soluções”.

por Paula Cardoso

Na linha da frente da intervenção comunitária, desbravada no seio da AMRT – Associação para a Mudança e Representação Transcultural, Carla Santos especializou-se em desenrascar soluções imediatas.

“Se alguém precisa de apoio alimentar, não é daqui a um mês, é logo. Então, se estamos no terreno temos de ter essa capacidade de resposta”, explica, acrescentando que o trabalho associativista obedece a uma lógica de emergência, que deixa pouca ou nenhuma margem de manobra para outro tipo de contribuição.

“Acho que o movimento associativo é fundamental, tanto mais que continuo a estar ligada. Mas chega a um determinado ponto em que queremos acompanhar mais as pessoas e não temos capacidade, por estarmos sempre a ‘apagar fogos’”.

De ‘incêndio’ em ‘incêndio’, Carla apercebeu-se que o modelo de gestão de muitas das instituições que trabalham junto das populações, nomeadamente as associações de bairro, não permite outro tipo de actuação.

“A IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social] funcionam muito por financiamento a projectos. Ou seja: quando há financiamento, há projectos espectaculares, mas se deixam de ter financiamento, os projectos acabam por morrer”.

Essa recorrente ameaça de morte sensibilizou a ex-coordenadora de projectos da AMRT – Associação para a Mudança e Representação Transcultural para a urgência de revitalizar as contas das associações.

“Pensei: tenho de capacitar os dirigentes associativos, na perspectiva de diversificar as suas fontes de receita, e lhes dar sustentabilidade”.

O pensamento concretiza-se através da Capacitare, empresa de prestação de serviços nas áreas da Formação, Coaching, Consultoria e Migração.

Projecto-piloto na área da empregabilidade

Criada por Carla Santos em Abril de 2017, a firma “faz um match entre um lado mais humano do movimento associativo, e as necessidades de gestão”, resume a empresária.

A par do foco na formação de líderes de associações, a Capacitare dá cartas na área da empregabilidade, oferecendo uma alternativa aos gabinetes de inserção profissional.

“Temos um projecto-piloto a decorrer em Lisboa, com o aval do  IEFP [Instituto do Emprego e Formação Profissional]”, adianta Carla, revelando os princípios dessa intervenção.

“Em vez de pensarmos que o desempregado tem de ir trabalhar em qualquer coisa para deixar de estar desempregado, entendemos que tem de arranjar um emprego duradouro, sustentável. Pode ser a varrer ruas ou a lavar pratos, mas se a pessoa passar por um processo de capacitação, em que reconhece as suas habilidades, vai escolher com base nisso e, dessa forma, conseguirá manter-se no trabalho, em vez de se inscrever em qualquer coisa”.

 

Esse desfecho explica-se pela valorização de competências, e consequente elevação da auto-estima, clarifica Carla, que, junta à experiência de campo com populações migrantes a formação em Antropologia e a certificação como master coach.

O extenso e diversificado know-how profissional calibrou a responsável da Capacitare para os desafios da legalização.

“A partir do momento em que conseguimos resolver um problema de documentação de alguém que nos procura, há todo um mundo de oportunidades que se abre, e ao qual essa pessoa pode aceder”, constata Carla Santos, recordando o principal traço de identidade da sua empresa.

“A Capacitare nasce de uma enorme vontade de transformar a vida de quem procura soluções”.