A vida de Martin Luther King, da mudança de nome profética ao sonho histórico

Comemora-se hoje o Dia de Martin Luther King Jr., um feriado móvel dos Estados Unidos da América, que se celebra todos os anos na terceira segunda-feira de Janeiro. Inicialmente o feriado era comemorado a 15 de Janeiro, a data de nascimento do líder do movimento dos direitos civis. Embora tenha começado por ser um feriado federal, foi sendo adoptado a pouco e pouco como feriado estadual, por todos os 50 Estados, e desde 1992, quando o Arizona o decretou por voto popular, é um verdadeiro feriado nacional. Para assinalar a data, republicamos o texto-memorial de Pedro Filipe, host d’ O Lado Negro da Força.

por Pedro Filipe

Em 15 de Janeiro de 1929 nascia Michael King Jr., em Atlanta, capital do Estado da Georgia. Sim, leu bem, é este o nome que consta do seu certificado de nascimento. Sem Martin. Sem Luther. Apenas com 28 anos, no dia 23 de Julho de 1957, o seu registo de nascimento foi revisto e alterado. Perdeu-se o Michael e nasceu verdadeiramente Martin Luther King Jr..

O motivo? Em 1934 o pai de Michael King Jr., Michael King Sr., fez uma viagem até à Terra Santa, e em seguida partiu para um congresso da Aliança Baptista Mundial, em Berlim. A Alemanha foi escolhida para receber esse congresso, por ser o país natal de Martinho Lutero (Martin Luther, em inglês), o pai do Protestantismo. O legado de Lutero marcou profundamente Michael King Sr., e este decidiu que queria homenageá-lo.

Mas não seria apenas aí que a viagem à Alemanha transformaria de forma irremediável a vida de Michael King Sr. É que em 1934 Michael King Sr. presenciou alguns dos acontecimentos vividos durante o primeiro ano de governação do novo Chanceler, um jovem pujante com um discurso revigorante e cheio de energia de seu nome, Adolf Hitler. O clima de perseguição aos judeus e às minorias ficaram para sempre marcados na mente do Pastor Baptista.

Uma mudança profética

Quando regressou aos Estados Unidos da América tomou duas decisões, a primeira dedicar a sua vida a lutar contra as injustiças que tinha visto na Alemanha [e que experienciava no seu próprio pais], e a segunda alterar o seu nome definitivamente para honrar o pregador que idolatrava. Alterou-o de Michael King Sr. para Martin Luther King Sr., o seu filho, que partilhava o mesmo nome, decidiu fazer o mesmo e dedicar-se à mesma causa. A luta contra a discriminação.

Há algo de profético nesta mudança. Quase todo os grandes nomes da Bíblia o fizeram antes de transformarem irreversivelmente o mundo cristão, é como que um segundo nascimento. Jacob tornou-se Israel. Saulo tornou-se Paulo e Simão tornou-se Pedro. Agora Michael tornava-se Martin Luther e ia reescrever a [sua] história. E que História!

O sonho vive no legado

Desenvolveu o dom da oratória no Seminário Teológico de Crozer, uma Igreja Baptista. Doutorou-se em Teologia Sistémica pela Universidade de Boston; Casou com Coretta Brown, com quem teve quatro filhos; Liderou o boicote aos autocarros em Montgomery, que acabou com o fim da segregação racial nos autocarros públicos da cidade, e depois em todo o Sul; Organizou os protestos em Birmingham, Alabama; E a Marcha sobre Washington, em 1963, onde proferiu o famoso discurso “I Have a Dream” [Eu tenho um Sonho], na escadaria do Memorial de Abraham Lincoln [o Presidente que travou um guerra civil e aboliu a escravatura no Estados Unidos da América]; Em 1964 recebeu o Prémio Nobel da Paz, pelo seu contributo no Combate pela Igualdade Racial e Resistência Não-Violenta; Um ano depois organizava as também famosas travessias de Selma para Montgomery. Foi assassinado no dia 4 de Abril de 1968 em Memphis, no Tennessee, mas o seu legado viverá para sempre.