De boas intenções está a luta anti-racista cheia. Venham as reparações!

É recorrente discutirmos as intenções dos agressores perante episódios racistas, sobretudo quando estão em causa as chamadas microagressões. Fazemo-lo normalizando a reprodução dessas violências e relativizando o seu impacto em que as vive. Está a acontecer de novo, com o lançamento da música “Filha da Tuga”, sonorizada de mensagens racistas que continuam por reconhecer, porque a intenção de quem as produziu não foi essa, e o grande problema está nas reacções “sempre exageradas” de quem é agredido. Afinal, se já houve um pedido de desculpas e tudo, o que é que nós, os visados, queremos mais? Respondemos mais logo n’ O Lado Negro da Força. Até lá partilhamos uma sugestão de leitura para quem tem dificuldade em escutar: o livro “White Fragility: Why It’s So Hard for White People to Talk About Racism,”, da socióloga e educadora anti-racista Robin DiAngelo.

por Afrolink

Somos todos humanos e, como tal, todos erramos. Se tivermos a humildade de o reconhecer, pedimos desculpa. Se estivermos comprometidos em melhorar, fazemos mais do que isso:  disponibilizamo-nos a aprender, para que não voltemos a repetir o mesmo erro.

A reparação começa aí: nessa combinação de reconhecimento com responsabilização. Pelo contrário, pedir desculpas e continuar a fazer o mesmo – prática que se repete perante agressões racistas – não é mais do que adaptar às convenções do presente, mecanismos históricos de silenciamento.  

Afinal, se já foi apresentado um pedido de desculpas, o que mais podemos querer? Respondemos mais logo n’ O Lado Negro da Força.

Até lá, partilhamos uma sugestão de leitura para quem tem dificuldade em escutar: o livro “White Fragility: Why It’s So Hard for White People to Talk About Racism,”, da socióloga e educadora anti-racista Robin DiAngelo tem agora uma edição portuguesa.

Com tradução de Rita Canas Mendes e revisão de Pedro Schacht Pereira, o best-seller “Fragilidade Branca: Porque é tão difícil para os brancos falar sobre racismo?” foi uma das novidades da Edita_X para o final de 2020.

A obra “lança luz sobre o fenómeno da fragilidade branca, e permite-nos compreender o racismo como uma prática que não se restringe a pessoas de má índole [lá se vai o argumento das intenções], mas a todos os que inconsciente e inadvertidamente o propagam”, antecipa a sinopse, fundamental para entender as resistências que a discussão racial tende a despertar.

“A fragilidade branca caracteriza-se por emoções como a raiva, o medo, e a culpa, e por comportamentos que incluem a argumentação e o silêncio, comportamentos estes que impedem qualquer diálogo inter-racial de relevo”, assinala-se na obra, que coloca em evidência “um padrão de defesa face às sugestões de racismo através de reacções pretensamente inócuas como negações absurdas do tipo «Não vejo cores»”.

“Mais do que um ensaio, esta obra é um manifesto para a tomada de consciência racial individual e colectiva da comunidade branca, que analisa a fundo de que modo a fragilidade branca se desenvolve, como protege a desigualdade racial e o que podemos fazer para nos envolvermos de forma mais construtiva. Nomear, definir e analisar a fragilidade branca aumenta a compreensão do racismo sistémico, e perturba a forma como este é defendido, colocando em evidência o racismo que não vemos”.

Reflectimos juntos mais logo n’ O Lado Negro da Força.