Demolições avançam no 2.º Torrão, sem que a autarquia garanta o realojamento

A semana começou com um novo avanço de retroescavadoras no bairro do 2.º Torrão, em Almada, onde o processo de demolição de casas e realojamento de moradores – justificado por um alegado risco de derrocada – já se arrasta há mais de 130 dias. Segundo as associações no terreno, até à data cerca de 65 construções foram abaixo, sem que a autarquia tenha garantido uma resposta adequada aos habitantes. “A maioria dos agregados foi encaminhada para soluções emergenciais precárias”, nomeadamente para “quartos sobrelotados em hostels, com restrição do uso da casa de banho, sem equipamentos de cozinha e bens essenciais”. A mesma fonte garante ainda que “pelo menos três agregados ficaram efectivamente em situação de sem-abrigo”, havendo também que tenha sido enviado para fora do concelho, comprometendo compromissos profissionais, trajectórias escolares e redes de suporte familiar. Diante desta realidade há um repto que amplifica – “Demolição só com chave na mão” –, mas que a Câmara Municipal de Almada parece determinada em ignorar. Aliás, a autarquia é acusada, desde o início do processo, de falta de transparência, inflexibilidade e indisponibilidade para o diálogo. Ontem não foi excepção. As imagens enviadas para o Afrolink, por quem no terreno é forçado a ser resistência, documentam um rasto de desumanização municipalmente invisibilizado e silenciado.

por Afrolink

Os alertas voltaram a soar esta segunda-feira, 13, no bairro do 2.º Torrão, em Almada, onde, desde Outubro do ano passado, a autarquia leva a cabo um violento processo de demolições, justificado por um alegado risco de derrocada.

Desta vez, o rosto mais visível do avanço das máquinas é Sebastião Tomás, transformado em sem-abrigo durante a fúria demolidora de 2022, e à falta de uma resposta condigna da Câmara, há cerca de quatro meses a viver entre as ruínas da sua antiga habitação.

O caso agrava-se face à debilitada condição de saúde de Sebastião, evidenciada pelo seu caminhar, suportado por muletas. Aos 54 anos, este morador do 2.º Torrão descreve a situação em que se encontra como a de um “cão abandonado”, relato que podemos encontrar no Instagram, no Canal de Comunicação dos Bairros de Trafaria, Almada.

É também aqui, entre directos e posts de sensibilização, que podemos seguir a campanha “Demolição só com chave na mão”, em que, individualmente, ou em colectivo, várias vozes se têm juntado para exigir ao município almadense opções de realojamento dignificantes.

“A maioria dos agregados foi encaminhada para soluções emergenciais precárias: quartos sobrelotados em hostels, com restrição do uso da casa de banho, sem equipamentos de cozinha e bens essenciais”, descrevem, ao Afrolink, as associações no terreno, acrescentando que “pelo menos três agregados ficaram efectivamente em situação de sem-abrigo”.

Segundo a mesma fonte, “outras pessoas foram realojadas fora do concelho de Almada e estão a enfrentar muitas dificuldades”, algo que facilmente se compreende se considerarmos o impacto dessa mudança sobre compromissos profissionais, trajectórias escolares e redes de suporte familiar.

Perguntas sem resposta

Desde o primeiro momento na linha da frente, a Associação Canto do Curió e a STOP Despejos têm exposto as inúmeras fragilidades da intervenção autárquica, denunciando a falta de transparência, inflexibilidade e indisponibilidade para o diálogo.

O processo está detalhado neste comunicado, que confronta a Câmara de Almada com várias questões, todas sem resposta.

Desde logo, porque é que “os relatórios com base nos quais se justifica a destruição de uma comunidade e soluções habitacionais largamente inadequadas, não são do domínio público?”.

Ao mesmo tempo, se o município “está consciente dos problemas estruturais da zona há pelo menos uma década”, por que motivo “não planeou com antecedência o realojamento da comunidade do Segundo Torrão, recorrendo a um mecanismo de realojamento de emergência [Porta de Entrada] depois de demolidas as casas?”.

Enquanto continuamos à espera dessas de outras explicações, vidas como a de Sebastião Tomás continuam a ser demolidas. Até quando?