Do sonho na moda à missão de contar a própria história, Elsa apresenta-se

Manequim adiada desde a adolescência, por agora “freak” das limpezas profissionalizada e amanhã talvez historiadora da própria vida, Elsa Moreira nasceu em Portugal há 36 anos, filha de pais cabo-verdianos. Hoje mãe de três, planeia reactivar vários sonhos que ficaram em standby, para conhecer amanhã n’ O Lado Negro da Força.

por Afrolink

Podem ser sonhos já sonhados ou sonhos ainda por sonhar. Sejam eles quais forem, Elsa Moreira manifesta “cada vez mais confiança para ir atrás” deles.

“Quero e vou conseguir voltar ao mundo da moda”, garante, assumindo as rédeas do próprio destino. “Quero ir para a faculdade, quero viver o momento”.

O compromisso com a realização pessoal ganha forma após sete anos de desafios de saúde, marcados por um quadro de ansiedade e ataques de pânico constantes.

“Estou muito melhor hoje, e graças a essa experiência sinto que sou um ser humano melhor, pois o meu olhar sobre o mundo mudou”, conta Elsa, na antevisão da sua história de vida, amanhã em destaque n’ O Lado Negro da Força.

Até lá, a manequim adiada desde a adolescência reconhece que antes das provações de saúde “tinha umas palas” a limitar-lhe a visão. Depois, prossegue, passou a olhar o outro com empatia e compaixão.

“Infelizmente é preciso passar por isto para se dar valor à vida que tantos de nós damos como garantida. Sinto que a minha missão passa muito por aqui, contar a minha história e, quem sabe, pelo caminho ajudar alguém”.

Comecemos, então, pelo início.

Nascida em Portugal há 36 anos, filha de cabo-verdianos, Elsa conserva memórias “muito felizes” da infância, sem esquecer as adversidades.

“Cresci num bairro de lata em Algés, numa “casa” sobrelotada de familiares, sem condições nenhumas, como tantas outras famílias de imigrantes em bairros desta natureza”.

Embora aos 10 anos tenha mudado para uma casa melhor, “com divisões, chão seco, casa de banho e outras coisas que na altura eram um luxo” para a sua família, Elsa recorda que esse período também foi acompanhado de muita turbulência emocional.

“Presenciei várias discussões dos meus pais, e a sua separação, o que me abalou muito até recentemente”.

A par das provações domésticas, Elsa enfrentava bullying na escola, “por ser muito magra e pensarem que tinha a mania”.

Apesar dessas memórias de agressão, a então aluna da Secundária de Miraflores, nota que ainda hoje mantém amizades iniciadas nessa escola, que ficava em frente Bairro Pedreira dos Húngaros.

Mas o fim do 9.º ano trouxe mais uma mudança de casa, no caso para um prédio social em Porto Salvo, Oeiras.

Nessa altura, o pai de Elsa, mesmo separado da mãe, voltou a viver temporariamente com a família, experiência de má memória.  “Foi o pior ano da minha vida”, sublinha a hoje mãe de três, estreada na maternidade aos 23 anos.

Cenas dos próximos tempos

A experiência ‘suspendeu’, entre outros, o sonho de uma carreira na moda.

“Aos 15 anos decido tirar um curso de manequim, e lá fui eu viver o sonho”, conta, lamentando que tenha sido “sol de pouca dura”, porque “não tinha noção de muita coisa”.

A vida acabou por se encarrilhar por outras vias, mas, nota Elsa, esse projecto ficou pendurado até surgirem novos rumos.

Enquanto isso, a assumida “freak das limpezas” trabalha como empregada doméstica. “Dá-me liberdade financeira, coisa que num outro trabalho dificilmente teria”, refere, acrescentando que é algo de que gosta muito de fazer.

Ainda assim, após três anos nessa posição, Elsa não planeia continuar por muito tempo.

“Embora goste, não é o que me aquece o coração, não é o que me faz vibrar. Por isso o caminho será outro nos próximos tempos”.

Seja qual for, amanhã passa pelo Lado Negro da Força.

Para acompanhar a partir das 21h, em directo no Facebook e no YouTube.